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À frente do primeiro clube de assinatura de moda e acessórios afro do Brasil, o casal Bruno e Débora encontrou uma forma de apoiar o afroempreendedorismo entregando produtos de moda, beleza e cultura na casa dos clientes.

Imagem mostra caixa com o logotipo do Clube da Preta rodeada de exemplos de produtos: uma camiseta dobrada com a frase “respect my hair”; o livro Sobreviventes, de Cidinha da Silva; um chinelo e uma necessaire com estampas em estilo africano.

Unir uma causa a um negócio próprio. Isso que o administrador e jornalista Bruno Brigida, 29, junto com a sua companheira, a museóloga Débora Luz, 29, fizeram ao criar o Clube da Preta: o primeiro clube de assinatura de moda e acessórios afro do Brasil.

O esquema é simples: o cliente preenche no portal um perfil de estilo e a equipe do Clube da Preta entrega uma vez por mês na casa do usuário os produtos dentro de uma caixa, com preços acessíveis. São produtos de moda, beleza e acessórios, que vão de camisetas, turbantes, vestidos, pulseiras, colares, cervejas, cremes e xampus para cabelo crespo e cacheado, até livros de autores negros. Todos os produtos são produzidos por empreendedores negros.

Como surgiu a ideia

Frequentadores da Feira Preta, evento anual que ocorre desde 2002 em São Paulo e reúne cerca de 120 expositores negros, Bruno e Débora estavam em busca de algo para ajudar pequenos produtores. Enquanto consumiam seus itens, pensavam em algo além disso.

Um dia, Bruno recebeu uma encomenda: uma caixa de cerveja enviada por um clube de assinatura. Foi aí que teve o estalo que precisava para dar o primeiro passo rumo ao empreendedorismo. Em vez da cerveja, pensou em colocar roupas e acessórios produzidos por empreendedores negros e vender isso tudo por assinatura. Em 2018, o Clube da Preta vendeu mais de 10 mil caixas, reuniu 400 clientes recorrentes e já fez parceria com mais de 150 fornecedores.

Além da personalização das caixas, outro motivo para a fidelização dos clientes seria o lado social e de afirmação da cultura negra. De acordo com Bruno, o público é ligado em causas sociais e está preocupado em prezar pelos pequenos produtores. Apesar de o negócio ser feito por afroempreendedores, não é consumido apenas por afrodescendentes. Atualmente, a base de clientes da empresa conta com 80% de pessoas negras e 20% brancas.

Batemos um papo com Bruno Brigida que contou os desafios e aprendizados durante a caminhada como empreendedor social. Veja a seguir:

Mostre o valor do seu projeto

Desafios a gente sempre vai ter, independentemente da situação. Seja você um empreendedor com poder aquisitivo ou não. Empreender com cunho social é mais complicado, pois você terá que mostrar o valor do impacto antes de mostrar a qualidade do produto. É uma luta constante. O financiamento também é bem restrito, difícil de conseguir por meios mais tradicionais e que acaba impactando diretamente em um momento de crescimento”.

“Entendemos que o trabalho de empreendedorismo social surge pela importância de se trabalhar em sociedade, principalmente quando você está nas quebradas. Tudo que acontece lá, envolve as pessoas de lá. Então estamos movimentando e fomentando essa galera.”

Experiências geram aprendizados

“As experiências anteriores foram muito pautadas no modelo do mundo corporativo, mas trouxeram muita informação de gestão para dentro do meu próprio negócio. E sem uma gestão redonda, o seu negócio morre em um curto tempo. Depois que surgiu o Clube da Preta, nós também passamos a observar o empreendedorismo social como uma fonte positiva de mudança na sociedade, que trata todos como iguais e que ajuda no desenvolvimento de pessoas a curto e médio prazo, em um país em que a maior parte da população brasileira vive uma situação de desigualdade econômica e social”.

Melhorias são necessárias ao longo do caminho

“Faria muita coisa diferente. Às vezes dá vontade de parar e começar do zero. Mais aí usamos a experiência e dedicação para tocar as situações. Tem coisas mais burocráticas e internas que sempre vão precisar de mudanças, mas entendemos que o negócio tinha dado certo quando tivemos um pequeno boom de vendas e ele se sustentou por aproximadamente uns cinco meses. Fechamos 2018 com apenas 12 assinantes e, em janeiro, demos um salto para 50. Olhamos para essa informação e pensamos: vamos entender o que está acontecendo. E em abril, tínhamos o dobro de janeiro. Assim, vimos que estávamos no caminho certo”.

Pesquise e estude modelo de negócio

“A Feira Preta ajudou a tirar a ideia do papel no sentido de identificarmos uma demanda que as pessoas já tinham: a necessidade de mais meios de venda para o afroempreendedorismo, de mais ações pautando essa galera que faz artes para vender. Conhecer o modelo que você vai trabalhar é fundamental. Isso ajudará em um crescimento desde o início, sem passar tantos perrengues. Então, antes de se lançar no mercado, estude e busque capacitação das mais diversas áreas, isso é primordial em um negócio”.

Não desista diante das adversidades

“Nunca conheci um empreendedor que não tivesse pensado em desistir. Isso faz parte de uma rotina. Empreendedor sempre está pensando em escalar, crescer, ir além, mas às vezes a gente se depara com algumas barreiras que acabam desanimando, como ouvir comentários preconceituosos ou fechar o mês abaixo do que havíamos previsto, por exemplo. Mas é preciso seguir, sempre!”

A trajetória de Bruno Brigida e Débora Luz mostra que passar por cima de adversidades e receber apoio são aspectos fundamentais para levar adiante um negócio de impacto do social. Por isso dicas sobre a hora certa de formalizar um negócio e iniciativas como o Pense Grande Incubação podem ser valiosas. Além disso, é importante conhecer os obstáculos superados por outros empreendedores, como contam Iana Chan, do PrograMaria, Fabiano Lopes, do Inspirando Gigantes, e Emanuelly Oliveira, do Social Brasilis no podcast Empreender? Não tá fácil pra ninguém.

“Mostrar o valor do impacto é o desafio”, diz criador do Clube da Preta
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