O objetivo da {reprograma} é reduzir a lacuna de gênero por meio do ensino gratuito de programação para ver cada vez mais mulheres na área de tecnologia. Saiba mais!
Quando a designer catarinense Carla de Bona viajou ao Japão, em 2007, para participar do WorldSkills Competition, o maior torneio de formação profissional do mundo, algo chamou sua atenção. A ausência de mulheres na área de tecnologia.
Carla passou a dar aulas sobre Design Digital em faculdades de Tecnologia ao retornar para o Brasil. E concluir o mestrado em Comunicação Semiótica. Mas não pôde deixar de notar que havia poucas alunas em sua turma. Bem como nos demais espaços que frequentou.
“A representatividade feminina é incomodamente baixa nessa área. Tanto no mercado de trabalho quanto na sala de aula. A maioria dos meus pares eram homens”, relembra a especialista em UX (experiência do usuário).
Ela decidiu, a partir dessa inquietação, buscar por projetos que descontruissem estereótipos no ensino de programação. A princípio, sua ideia era contribuir como voluntária. Só que não demorou até o caminho da designer se cruzar com o da empreendedora Mariel Reyes, idealizadora da {reprograma}.
A startup de impacto, que existe desde 2016, foi criada com o intuito de reduzir o “gap” de gênero por meio do ensino gratuito de programação para mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Carla se juntou ao projeto como coordenadora ao lado de Mariel. Assim como da gestora de recursos humanos Fernanda Faria.
“Nosso foco é ampliar cada vez mais as oportunidades para mulheres com trajetórias diversas. Dessa forma, as tecnologias desenvolvidas por elas também trarão soluções representativas e plurais para a sociedade”, acrescenta.
Mudanças práticas para o presente
Inicialmente, a {reprograma} partiu em busca de voluntários para testar um curso-piloto de apenas seis semanas. A formação tinha como objetivo apresentar as principais linguagens de programação . Além de aprofundar a prática de front-end.
As fundadoras estudaram as demandas do mercado por profissionais na área de TI durante os primeiros dois anos de atuação da startup. Depois, mapearam potenciais investidores. E fizeram propostas de parceria para continuar garantindo a gratuidade das aulas para as estudantes.
De fato, foi questão de tempo até que grandes empresas se interessassem pela iniciativa. A startup entrou para a Estação Hack em 2018. Trata-se do centro de inovação do Facebook. Logo depois, o negócio ganhou escala. E passou a ir além do ensino de programação.
Nesse meio tempo, a {reprograma} se tornou parceira de instituições como SENAI, Mercado Livre, Accenture, Nubank, entre outras. Além disso, foi uma das 34 organizações selecionadas para receber apoio do Google.org. A iniciativa investe em startups de inovação e impacto social.
“O diferencial da {reprograma} é focar em mudanças práticas para o presente. Nesse sentido, entendemos que precisaríamos oferecer capacitação técnica e socioemocional para inserir as futuras desenvolvedoras no mercado de trabalho”, complementa Carla de Bona.
Atualmente, o curso tem duração de 18 semanas. E pode ser realizado nas modalidades presencial e on-line. A formação é dividida em quatro módulos que abordam desde a lógica de programação até as aplicações práticas em front e back-end.
Além disso, parte do currículo é dedicado a programas de mentoria. Além de orientação profissional, eventos de contratação e maratonas de programação (hackathons).
Mulheres na área de tecnologia: estímulo a representatividade
Embora a formação seja voltada às mulheres que não têm recursos para aprender a programar, a startup parte do princípio de que a desigualdade é intensificada por recortes socioeconômicos. Dessa forma, as vagas para estudar na {reprograma} priorizam mulheres negras e trans.
De acordo com dados coletados pela startup entre 2019 e 2021, 61% das estudantes são mulheres negras. Já a porcentagem de estudantes transgênero corresponde a 3%. “Estamos buscando parcerias que nos ajudem a garantir cada vez mais espaço para mulheres trans nas empresas de tecnologia”, complementa Carla.
O processo seletivo da {reprograma} é composto por três etapas. Primeiramente, é preciso preencher o formulário de inscrição. Depois, as mulheres participam de um workshop prático para conhecer a metodologia. Uma vez feita a imersão, são encaminhadas para a fase de entrevistas. Nessa etapa, a ideia é entender os objetivos das futuras desenvolvedoras. Por fim, cada turma é formada com cerca de 30 estudantes.
Outra estratégia da {reprograma} para estimular a representatividade é formar multiplicadoras da metodologia. A estimativa é de que 60% do corpo docente seja composto por ex-alunas. “Isso faz com que as estudantes se reconheçam nas desenvolvedoras que formamos”, acrescenta a co-fundadora.
Reprogramando o setor tecnológico
De acordo com Carla de Bona, um dos planos da {reprograma} para 2022 é investir na formação de professoras. Assim, capacitarão as desenvolvedoras para atuarem como docentes em outros espaços. “O futuro tem muito a ver com o que a gente prioriza no presente”, conclui.
Dessa maneira, a ideia é continuar expandindo as possibilidades de reprogramar o setor tecnológico. Para isso, a startup pretende convidar ex-alunas para uma nova imersão ao longo do ano. Dessa vez, o objetivo será prepará-las para ocupar cargos de liderança nas empresas em que atuam.
Ainda em relação aos próximos passos da startup, o projeto {reprograma} teens está entre as prioridades. Até o momento, foram realizadas quatro turmas voltadas para o ensino de programação para meninas dos 13 aos 17 anos.
“O letramento digital será uma competência fundamental para tomar decisões conscientes. Portanto, queremos formar jovens preparadas para os desafios do século XXI. Mas, acima de tudo, o objetivo é que elas vejam a tecnologia como uma possibilidade de carreira”, finaliza Carla.
Para saber mais sobre a {reprograma} e ficar por dentro da sua agenda de cursos, acesse o Instagram da startup!
Conheça a 42 São Paulo
Assim como a {reprograma}, muitas iniciativas passaram a enxergar o ensino de programação como uma competência central para o século XXI. Entre elas, a 42 São Paulo se destaca pela metodologia única, desenvolvida na França e utilizada em mais de 20 países.
Mantida com a ajuda de empresas parceiras como a Fundação Telefônica Vivo — primeira no Brasil a investir nesse modelo disruptivo e gratuito —, a iniciativa foca em colocar os códigos para trabalhar a favor da colaboração e da diversidade. Saiba mais sobre como funciona a 42 na prática!