A narração de fatos e vivências é uma prática que ganha um novo significado e maior alcance com os recursos tecnológicos. Saiba mais sobre as narrativas digitais!
A contação de histórias é uma prática antiga, ancestral, que permitia às gerações passadas a transmissão de conhecimento, de cultura e de valores para os mais jovens. A produção narrativa ajuda a entender o passado e a guiar o futuro.
Ao longo dos tempos, as técnicas de narrações foram apropriadas por vários segmentos. Recentemente, passaram a ser conhecidas como storytelling. Na Educação, ela se tornou uma ferramenta importante para o bom desenvolvimento dos estudantes em sala de aula.
“Quando a gente pratica a narração ou a contação de história, desenvolvemos habilidades da cultura oral, como falar bem, se comportar quando se usa a fala e como se expressar melhor. E ao escrever uma história, usando a cultura escrita, também desenvolvemos habilidades importantes”, explica Beto Silva, psicopedagogo e mediador de leitura literária, especialista em educação socioemocional e inovação educativa.
Mas ter algo para contar não é o suficiente. É preciso saber contar uma boa história. E mesmo que a contação, a princípio, não pareça relevante ou com propósito definido, é possível transmitir o conteúdo por meio de uma narrativa envolvente.
Com os avanços da tecnologia, a boa contação de história ganhou ainda mais força. E mesmo que você não perceba, já pode estar praticando o storytelling.
As narrativas digitais no cotidiano
Narrar e contar histórias é uma característica do ser humano. Entretanto, quando uma história é escrita, ela fica permanentemente registrada e pode ter um alcance gigantesco.
“É um jeito de valorizarmos o que vivemos e a nossa cultura. E não perder de vista que o bom legado que deixamos são as histórias que vivemos. Por isso a importância de possibilitar pelas narrativas a demarcação das nossas experiências”, comenta Beto Silva.
Milhões de pessoas usam as redes sociais para narrar o que fizeram no dia, registrar fatos que consideram importantes ou fazer homenagens. De acordo com o psicopedagogo, trata-se de uma nova forma de colocar em prática um hábito antigo.
“Antigamente, tínhamos o famoso diário. Hoje, muitos usam as redes sociais para narrar o que acontece no dia a dia. A internet pode ser um espaço de ocupação para o protagonismo dos jovens. Escrever um livro, por exemplo, era para poucos. Agora, com as tecnologias, todos podem escrever histórias e as compartilhar com o mundo”, aponta.
Ainda assim, o educador acredita que por mais que estejamos habituados com a prática, a escola pode ajudar o estudante a construir as próprias narrativas. Para que ele seja o protagonista da sua história, usando técnicas e habilidades digitais. Além disso, a internet pode ser um espaço de ocupação para o protagonismo do jovem com as narrativas digitais.
“As narrativas digitais ajudam os jovens a entenderem que a sua história tem valor. E que essa contação pode ajudar as gerações futuras. A partir dessas experiências, a gente se identifica ou pode reconstruir o jeito de ser e de olhar no mundo”, ressalta.
Contando boas histórias nos games
Profissões que envolvem as narrativas digitais ou storytelling, como palestrantes, publicitários ou redatores, estão em expansão. O roteirista de games é uma dessas profissões.
“O objetivo desse profissional é usar a imaginação expansiva para desenvolver personagens, criar cenas, histórias de fundo e muito mais. Ele é o responsável pelas dinâmicas de enredo de jogos que, normalmente, envolvem as escolhas do jogador ao evoluir no game”, explica Tarcísio de Oliveira, CEO da StreamSoft Games.
Ter boas técnicas de contação de histórias é fundamental para quem quer criar histórias de games. Afinal, essa é uma das primeiras etapas da criação de um bom jogo.
“Quando você está escrevendo a história, elabora o roteiro pensando no público-alvo, nos personagens e tudo o que vai envolver o jogador em cada fase. Assim como acontece nos filmes, a trilha sonora, os personagens, ambiente, desafio ou conflito devem ser capazes de emocionar, envolver e gerar expectativas no jogador”, explica o especialista.
Para se dar bem na criação de games, Tarcísio dá algumas dicas.
“A leitura é a principal. Além disso, assistir muitos filmes e documentários. Até quando o filme não é bom, assista! A gente sempre pode aprender algo. Outra dica é escrever ou fazer uma anotação sempre que uma ideia surgir.”
E acrescenta que é preciso ficar atento às inspirações, porque uma boa ideia pode surgir a qualquer momento.
“Pode vir de um sonho, quando estamos lendo, viajando ou até mesmo conversando com outras pessoas. Ao escrever uma história, leia, releia e faça isso muitas vezes. E sempre tenham em mente onde inicia essa história e até onde ela irá.”
Incentivo às Narrativas Digitais
A Fundação Telefônica Vivo criou a Coleção de Tecnologias Digitais com seis cadernos que colaboram com a implantação da cultura digital nas escolas e com a evolução das competências digitais dos estudantes. Nesses materiais, elaborados como apoio para os professores, estão instrumentos que garantem aprendizagens para que os jovens possam atuar em uma sociedade que está em constante transformação.
Os cadernos, que podem ser baixados gratuitamente, reúnem conteúdos e sequências didáticas sobre temas como pensamento computacional, programação, narrativas digitais e robótica sustentável.
Pensando em apoiar o professor que deseja incentivar os alunos a contarem suas histórias, o segundo desses cadernos é o “Narrativas Digitais: narro, logo existo! Registrar meu mundo e construir histórias”.
Ele amplia ainda mais o conhecimento do professor sobre as competências, práticas, técnicas e teorias, que podem aprimorar a contação de histórias, como a escola pode contribuir oferecendo experiências que considerem o contexto em que a juventude está inserida: a tecnologia.
O material pode apoiar e transformar a atividade sem deixar de lado a preservação da cultura oral e a percepção de mundo, mas desenvolvendo habilidades digitais.