Aplicativos e sites inclusivos ajudam a promover a autonomia e a comunicação com o mundo ao redor.
O Brasil é um país de ávidos usuários por aplicativos. De acordo com um levantamento da App Annie, empresa especializada no segmento, somos a segunda nação do mundo campeã em downloads. Os dispositivos populares, mais do que uma forma de passar o tempo, também se configuram como ferramentas de grande utilidade, em especial para pessoas com deficiência – ajudando-as a enfrentar desafios cotidianos e a manter sua independência em atividades como pegar transportes públicos ou fazer compras.
“Os aplicativos são a grande revolução em termos de inclusão. Quanto mais aplicativos acessíveis existirem, mais pessoas podem se beneficiar deles. Por exemplo, uma máquina de cartão de crédito, sem um leitor acessível, não consegue ser utilizada por uma pessoa com deficiência visual. Por isso a tecnologia se configura como um auxílio fundamental para que o deficiente possa ser autônomo”, diz Adermir Santos Filho, superintendente da Fundação Dorina Nowill.
Com mais de 60 anos de atuação, a Fundação Dorina Nowill tem como base proporcionar leitura, entretenimento, formação e informação para pessoas com deficiência visual, produzindo uma gama de livros acessíveis. Para tanto, a tecnologia se configura como um pilar de inclusão, explica Adermir: “A tecnologia está muito presente no desenvolvimento do livro digital. O livro transforma o texto em um recurso a ser lido por uma voz sintetizada. Trabalhamos para que a leitura desse livro não seja passiva, com recursos de interação, como ler rodapés, fazer anotações ou pesquisas”.
Ainda que produzam livros de acessibilidade, Adermir é enfático ao afirmar que não basta somente criar tecnologias e aplicativos do tipo; é necessário que qualquer aplicativo já seja pensado em termos de inclusão. “É uma ideia equivocada a de que aplicativos inclusivos são usados somente por pessoas com deficiência. Eles também proporcionam facilidades para outros públicos. O ideal seria que qualquer aplicativo fosse inclusivo, criando assim uma cultura não excludente”.
Com a similar preocupação de criar dispositivos tanto para pessoas com deficiência como também para aquelas que as cercam, surgiu a empresa Hand Talk. Idealizada pelo publicitário Ronaldo Tenório, e consolidada em 2012 com os sócios-fundadores Carlos Wanderlan e Thadeu Luz, a inteligência utiliza uma persona 3D, chamada HUGO (foto acima), para realizar a tradução digital e automática para a Língua de Sinais, utilizada pela comunidade surda.
“Percebemos que os surdos tinham uma imensa dificuldade de comunicação. Eles não conseguem entender o português e a maioria das pessoas também não entende Libras, o que torna a comunidade de deficientes auditivos estrangeira em seu próprio país”, explica Tenório. A Hand Talk oferece diversos serviços, como um aplicativo de mesmo nome, site de acessibilidade e totens de serviço espalhados em lugares estratégicos das cidades.
O APP foi baixado mais de 60 mil vezes. Ao lado de outras ferramentas da Hand Talk, somam-se 60 milhões de traduções. “É um mercado promissor. Além de causar impacto social e mudar a vida das pessoas, há possibilidade de retorno financeiro. Várias instituições e empresas precisam tornar seus canais mais acessíveis. É um nicho a ser explorado no Brasil e no mundo”, ressalta Tenório.
A tecnologia não é mais uma área específica. Ao permear por todos os universos, se faz necessário aprender a usar as ferramentas digitais à disposição – e, por isso, é fundamental que não seja excludente. Pelo contrário. “A tecnologia assistiva coloca o deficiente em pé de igualdade, aumentando suas oportunidades também no mercado de trabalho. Os aplicativos mudam para melhor a vida de muitas pessoas”, conclui o empreendedor.