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Por que educadores ainda não são referência para alunos na orientação sobre recursos digitais?

Jovem negra e jovem oriental sentadas em cadeira e apoiadas em mesa recebem orientação de uma pessoa que está de pé e inclinada sobre elas

Eles aprendem a usar o computador e a internet sozinhos, com amigos ou familiares. Acessam a rede para fazer buscas no Google ou ver vídeos. Em 93% dos casos, navegam pela web usando um celular e, em sua maioria, não recebem dos professores muitas orientações sobre assuntos relacionados ao universo digital. Esse é o perfil médio dos estudantes brasileiros do ensino básico quando o assunto é a utilização de tecnologias de informação e comunicação, segundo a pesquisa TIC Educação 2016.

Divulgado em 2017, o levantamento, em nível nacional, mostra a perspectiva de alunos, coordenadores pedagógicos, diretores, professores de matemática e de português. Participam do estudo escolas públicas e privadas do ensino fundamental (5º e 9º anos) e do ensino médio (2º ano).

A pesquisa aponta que a maioria dos estudantes de escolas brasileiras não vê nos professores uma referência para a utilização de ferramentas digitais em sala de aula. Um dos indicadores, por exemplo, mostra que 79% deles dizem aprender sobre internet sozinhos, enquanto 47% afirmam que aprenderam a usar esses recursos com os professores. Quanto à orientação recebida, só 44% disseram que foram instruídos sobre segurança na rede.

Os dados também indicam um uso limitado dos recursos disponíveis na internet pelos alunos: 87% dos deles afirmam usar a web para fazer buscas no Google, mas apenas 51% disseram que comparam informações entre sites, e só 24% editam documentos pela internet.

Na visão de Marcia Padilha, mestre em história social pela Universidade de São Paulo (USP) e criadora do Criamundi, programa de apoio à inovação para escolas e redes de ensino, a baixa utilização de tecnologia nas aulas leva os professores a se distanciarem dos alunos nesse tema, perdendo a chance envolver essa área no projeto pedagógico.

“O papel do professor parece menor do que a gente esperaria porque estamos pensando em um modelo de escola que ainda propicia poucas experiências com uso de tecnologia. Se o professor não propõe situações concretadas de uso, ou propõe pouco, ele terá poucas chances de mediar essa utilização com o aluno”, observa.

A professora Lívia Aguiar, de 34 anos, vive essa dificuldade na prática. Há nove anos na Escola Estadual Professora Thayane Luzimara Costa Valcacer, em São Paulo, ela dá aulas de artes e, há um mês e meio, assumiu o cargo de coordenadora pedagógica do ciclo 1 do ensino Fundamental (1º ao 5º ano). Segundo a educadora, há uma série de barreiras na rotina do professor que reduzem sua presença na formação dos estudantes para a tecnologia.

“Primeiro, temos a questão da infraestrutura: muitos computadores não funcionam por falta de manutenção. Segundo, temos a questão do próprio professor, que não se sente motivado a assumir novos desafios”, diz.

Segundo ela, entre os fatores que desmobilizam os professores estão a falta de plano de carreira e as pressões para dar conta do currículo, que limitam o tempo e a disposição em inovar, assumindo novas atribuições – esse aspecto também foi verificado na pesquisa “O que pensam os professores brasileiros sobre a tecnologia digital em sala de aula.”

A esses obstáculos, na visão de Lívia, somam-se questões culturais. Ela dá o exemplo do papel dos celulares, cada vez mais populares, mas pouco aproveitados por alunos e educadores como recurso de ensino: “dentro da escola, 99% dos alunos têm celular, mas os professores não vêm o aparelho como um instrumento pedagógico, e sim como um empecilho”, diz. “Os estudantes, por sua vez, também não demandam uma aplicação nas aulas, porque usam o celular quase sempre para o entretenimento”.

A professora utiliza smartphones nas aulas de artes, ensinando novas linguagens por meio da fotografia, além do uso de aplicativos de edição e de compartilhamento de informações. “Acho que falta uma alfabetização digital tanto para os professores, quanto para os alunos. Na medida do possível, tento fazer essa alfabetização na minha área.”

 

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Consequências
Para Marcia Padilha, a tecnologia pode potencializar o processo pedagógico, sendo central não só para novas estratégias de ensino-aprendizagem, como também para o desenvolvimento dos estudantes como cidadãos e da sociedade como um todo. Na sua visão, a falta de fluência em recursos tecnológicos cotidianos representa não só uma oportunidade perdida, como um risco de marginalização daqueles que não dominam essas ferramentas.

“Se a gente não ajudar esses meninos e meninas a terem um uso mais rico e potente das tecnologias, eles vão ter que correr atrás disso em algum momento da vida. Vamos criar um gap do ponto de vista profissional e um desperdício do ponto de vista do desenvolvimento social da humanidade”, aponta.

Outro ponto importante, observa, é a mudança nas avaliações em larga escala, para que sejam contemplados não apenas resultados clássicos, como também novas metodologias e experimentações.

“Temos que ter uma visão crítica sobre os impactos que a tecnologia traz. Mas não podemos ter uma postura reativa, deixando de tomar a frente. Precisamos desenhar o futuro, e são os educadores que vão conseguir fazer isso.”

O papel do professor quando o assunto é tecnologia
O papel do professor quando o assunto é tecnologia