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Formação Programaê na Quebrada! reúne jovens de coletivos de São Paulo para usar a lógica de programação e ressignificar a relação com a cidade

#Escolasconectadas#Programaê

Mulher está olhando para tela de um notebook enquanto menino, ao seu lado, está escrevendo com uma caneta em um caderno. Imagem ilustra pauta sobre oficina que usou pensamento computacional para ressignificar relação com a cidade.

O pensamento computacional aplica regras da Ciência da Computação para a solução de problemas do cotidiano. Então, por que não utilizá-lo para repensar a relação com a cidade, ainda mais uma tão complexa quanto São Paulo? Achar respostas para essa pergunta foi o tema da oficina Programaê na Quebrada!, que aconteceu entre os meses de junho e julho com jovens mobilizados pelos coletivos Desenrola e não me enrola e Periferia em movimento, de São Paulo.

A atividade propôs fortalecer a atuação desses dois grupos, que atuam em projetos ligados à comunicação e ao jornalismo nas periferias de São Paulo, usando princípios do pensamento computacional para a busca de soluções que facilitem o dia a dia nos territórios onde atuam. Mais do que isso, foi feito um trabalho de estruturação de um material didático alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que, em breve, poderá ser consultado por qualquer educador.

Durante 40 dias, 12 jovens se dividiram em grupos para pensar e desenvolver três projetos. Eles contaram com a mentoria do Instituto Conhecimento para Todos, parceiro executor do Programaê, plataforma criada em parceria entre a Fundação Telefônica Vivo e a Fundação Lemann e que agrega cursos e conteúdos gratuitos de programação desenvolvidos por parceiros como Scratch e Code.org.

O Escolas Conectadas um projeto que faz parte do ProFuturo, programa global da Fundação Telefônica e da Fundação “la Caixa”, que tem entre seus pilares a formação continuada gratuita para  educadores e a promoção da inovação educativa e do desenvolvimento das competências do século XXI.

“Como sempre partimos da ideia de que todo mundo pode programar, a proposta da oficina foi a criação de sequências didáticas de pensamento computacional que pudessem ser aplicadas ao dia a dia de suas comunidades e em sala de aula”, explica Mônica Mondaji, do Instituto Conhecimento para Todos.Por conta da pandemia da Covid-19, as atividades foram realizadas de forma online. O processo de criação teve início com a participação no curso Se meu computador pensasse, oferecido pela plataforma Escolas Conectadas e que trabalha as quatro bases do pensamento computacional: decomposição, reconhecimento de padrões, abstração e algoritmo, com e sem o uso de computador; traçando uma relação com atividades como fazer um vídeo, escrever uma redação e até mesmo planejar uma atividade física.

Infográfico traz um resumo dos projetos Quem disse que eu não gosto de estudar?, O que sabemos sobre o bairro e Algoritmos da Cidade. Tem elementos como uma lupa, notas musicais e telas de smartphone e notebook desenhados em tons de roxo e rosa.

Levando o Yorubá à sala de aula

Magda Pereira de Souza, de 27 anos, produtora cultural e moradora do Jardim Ângela, extremo sul de São Paulo, é uma das integrantes do Quem disse que eu não gosto de estudar? e conta que, até então, o universo do pensamento computacional era pouco conhecido em sua vida.

A equipe aplicou o pensamento computacional no jogo de tabuleiro Ori. Em Yourubá, idioma de origem africana, Ori significa cabeça. “O Ori é a cabeça a partir da qual queremos desenvolver novas formas de descolonização. A grande sacada é que conseguimos unir as habilidades de cada um e entender que o pensamento computacional está no nosso dia a dia”, explica Magda.

O objetivo do jogo é levar à sala de aula uma nova forma de estudar o tema da colonização e escravização por meio da música negra. É colocar no centro do debate a história e a cultura afro-brasileira e africana, ressaltando a importância delas na formação da sociedade brasileira e aplicando de uma maneira mais dinâmica a Lei 10.639/30.

Foto de Magda Pereira de Souza, integrante do grupo Quem disse que eu não gosto de estudar?, que usou o pensamento computacional para criar um jogo relacionado à cultura afro-brasileira. Ela é uma mulher negra de cabelos enrolados, olha firme para a câmera e usa batom rosa e uma roupa preta.

“Neste jogo, quanto mais você avança, mais descoloniza a música brasileira, entendendo a pessoa preta como potência e não só pela perspectiva da tragédia da escravização. É fazer com que os estudantes consumam uma aula que não seja desgastante e só sobre o racismo, e que seja compreendida como reforço para as suas habilidades”, completa Magda Souza.

Unindo jornalismo e pensamento computacional

Para Luiz Lucas Ferreira, também do Jardim Ângela, a participação na oficina, de início, foi um desafio. Contudo, o modelo empregado tirou a aquela sensação de ‘será que vou entender e conseguir colocar em prática?’.

“Compreendi que o pensamento computacional é um processo facilitador”, diz o jornalista de 23 anos. Participante do grupo O que sabemos sobre o bairro?, ele detalha que a ideia central foi relacionar diferentes formas de se comunicar, aliando a linguagem computacional ao jornalismo.

Foto de Luiz Lucas Ferreira, integrante do grupo O que sabemos sobre o bairro? e que usou o pensamento computacional aliado ao jornalismo. Ele é um homem negro, com cabelos curtos enrolados. Está olhando para a câmera e ao fundo é possível ver o bairro do Jardim Ângela, onde mora.

“Mesmo quando não se tem acesso, por exemplo, a um celular, internet ou computador, é possível usar o pensamento computacional. Tudo é uma troca: computadores são desenvolvidos a partir da linguagem humana, e, nós humanos, aprendemos a usar a linguem dos computadores”, afirma Luiz.

Transformando a relação com o território

Criar um imaginário individual e coletivo dos territórios, onde cada jogador constrói seu tabuleiro a partir de um mapa afetivo. Assim pode ser resumido o projeto Algoritmos da Cidade, proposto pelas jornalistas Tamires Rodrigues e Vitoria Guilhermina.

O jogo pede que cada estudante trace uma rota, escolhendo um ponto de partida e chegada – que pode ser o caminho de casa para a escola, por exemplo. Depois disso, devem registrar as memórias que nascem desse trajeto: descrever o ponto de ônibus e as construções que veem pelo caminho, avaliar os sentimentos que são despertados a passar por certo lugar, ou a notar certo elemento ou com as interações que surgem.

“A ideia é que a junção de todos os mapas afetivos crie um mapa maior sobre aquele território e conte um pouco da história, das pessoas que vivem ali, de seus hábitos, meios de locomoção e atravessamentos. É a ideia de criar uma memória e uma história dentro dos caminhos que percorremos e que nos afetam, colocar que somos pessoas geográficas e só vamos conseguir seguir se entendermos de onde estamos partindo”, resume Vitória.

A proposta partiu de um ponto de vista pessoal para trabalhar a identidade e a geografia de onde elas moram de forma prática. “A gente partiu de inquietações nossas como mulheres que moram em São Paulo e precisam cruzar a cidade quase todo dia, foi olhar para nossas vivências”, complementa a moradora do bairro Rio Pequeno.

Para Tamires Rodrigues, que mora na região do Jardim Ângela, o processo de elaboração do material passou por mostrar ao jovem da periferia que ele pode relacionar o pensamento computacional com seu território. “É fazer com que o jovem da quebrada consiga enxergar como pode ser fácil construir um algoritmo. É mostrar que o pensamento computacional está em tudo”, observa.

Oficina usa pensamento computacional para solucionar problemas da cidade
Oficina usa pensamento computacional para solucionar problemas da cidade