Após ser transformado pela música, Acacio Reis decidiu criar uma escola de música gratuita para estimular o desenvolvimento artístico e social em Paraisópolis
Unidos somos mais fortes. É esse lema que move Acacio Reis, 29, a transformar vidas por meio da música, de maneira voluntária. “A arte tem esse poder de promover encontros entre as pessoas”, reflete. Ele é fundador da Unidos de Paraisópolis, escola de música que estimula o desenvolvimento social e artístico de crianças e jovens na segunda maior favela de São Paulo. O ensino é oferecido gratuitamente.
A trajetória pessoal de Acacio também foi impactada pelo trabalho voluntário. Tudo começou quando ele tinha 10 anos de idade e passou a fazer parte de um projeto social na comunidade. Foi lá que ele teve contato com um instrumento musical pela primeira vez.
“Mesmo sem nunca ter tocado, eu soube o que fazer com o instrumento. Sempre tive muita facilidade, embora não soubesse ainda que queria ser músico”, recorda.
Apesar de ter sido esse o seu primeiro contato formal com a música, Acácio desconfia que a ligação vem de muito antes. “Até meus cinco anos, morava em uma casa vizinha à escola de samba Vai-Vai, no bairro do Bixiga. Acredito que a música esteve comigo por sentir essa proximidade”, conta o jovem, que mudou-se para Paraisópolis após a separação dos pais.
Enquanto a mãe trabalhava, Acacio deixou de passar o tempo livre nas ruas para se dedicar às aulas de música.
“A música me transformou por completo. Através dela descobri meu projeto de vida e despertei para o propósito de retribuir para a comunidade tudo o que recebi”, conclui o educador musical.
Música para todos
A ideia de democratizar o ensino musical em Paraisópolis surgiu em 2018, quando Acacio foi convidado a dar aulas de samba na Holanda. Mas, antes disso, o encontro com a música já havia lhe rendido experiências únicas. Fazer parte da Orquestra Filarmônica de Paraisópolis, tocar ao lado de renomados artistas brasileiros e cursar a faculdade de Música são algumas.
“Passei dois meses na cidade de Utrecht, ensinando bandas sobre a diversidade dos ritmos brasileiros. Isso me fez pensar como a música e as pessoas que cruzaram meu caminho foram decisivas para que eu estivesse naquele lugar. Decidi voltar ao Brasil e devolver aquilo que recebi: oportunidades”, relembra o percussionista.
Chegando ao país, contou com a colaboração da comunidade para fazer o projeto acontecer. No início, levava os próprios instrumentos para um estacionamento cedido por uma amiga. O voluntário dividia os dias entre dar aulas em bairros nobres da cidade e doar tempo para o ensino de percussão em Paraisópolis.
“À medida que a comunidade foi abraçando a iniciativa, a escola foi crescendo. Começamos a receber doações de instituições e empresas, que nos ajudaram com os instrumentos e o lanche das crianças. Assim surgiu a Unidos de Paraisópolis”, acrescenta Acacio Reis, que toca o projeto desde 2019.
Muito além do samba
Um dos objetivos da Unidos de Paraisópolis é romper o estereótipo de que no Brasil só o samba é popular. Durante o Carnaval, a escola prioriza a percussão, mas ao longo do ano também aprofunda ritmos como maracatu, frevo e chanchada.
Além disso, o projeto tem como objetivo promover o desenvolvimento social a partir de ações alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. As principais áreas de atuação estão relacionadas à educação (ODS 4), redução das desigualdades (ODS 10) e instituição pela paz e justiça social (ODS 16).
A música venceu
O que começou como um espaço para ensinar ritmos brasileiros, aos poucos tornou-se um centro cultural. A ideia da Unidos da Paraisópolis não é apenas educar crianças e jovens musicalmente. Mas também prepará-los para o trabalho em equipe e o exercício da cidadania.
“O mais gratificante é ouvir os pais das crianças contarem que elas melhoraram o desempenho escolar e sentem-se mais motivadas por fazerem parte de um grupo. Me identifico com esses relatos, porque foi exatamente assim comigo”, comenta Acacio.
Apesar de a Unidos de Paraisópolis não contar com uma fonte de investimento fixa, as doações da sociedade civil permitiram aumentar a oferta de aulas. Violão e piano foram incorporados ao repertório musical. A iniciativa conta com seis voluntários, entre eles Acacio, para ensinar cerca de 60 estudantes.
Mais de 150 pessoas já passaram pelo projeto. E não há limitação de idade para aprender. Os interessados podem começar a partir dos cinco anos de idade. As aulas acontecem aos sábados e domingos e incluem oficinas de diferentes gêneros musicais.
Além da grade regular, os estudantes contam com atividades culturais que vão desde a confecção de fantasias até aulas de inglês.
“Temos uma voluntária que é artista plástica, outro é quiropraxista. A ideia é não apenas empoderar a comunidade culturalmente, mas também garantir desenvolvimento social e bem-estar para a população local”, complementa Acacio, que sonha em poder remunerar os colaboradores.
Enquanto busca oportunidades para rentabilizar a iniciativa, o grupo coleciona momentos marcantes. Um deles aconteceu durante a pandemia, com a participação da escola em uma live de artistas como Maria Gadú, Gilberto Gil e Elza Soares. Mesmo sendo um encontro virtual, a ocasião permitiu reforçar para as crianças e jovens a potência cultural das favelas brasileiras.
“A transformação a partir dessa troca é tão deles quanto minha”, finaliza o músico.
Saiba como colaborar com o projeto!
Um dos principais desafios enfrentados pela Unidos de Paraisópolis é a arrecadação de verba para a manutenção e compra de instrumentos musicais. Quer ajudar a estimular o protagonismo cultural? Aqui você encontra a vaquinha virtual criada pelo projeto para concentrar as doações da sociedade civil.
Exercer a cidadania e reforçar valores de solidariedade e empatia
Por acreditar no poder do voluntariado, a Fundação Telefônica Vivo organiza o Dia dos Voluntários. Há mais de 20 anos atuando no Brasil, o Programa de Voluntariado da empresa tem como objetivo mobilizar os colaboradores em ações que vivenciem valores como solidariedade e empatia em prol de um mundo mais justo e igualitário. Relembre a edição de 2021!