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Você já ouviu alguma piada preconceituosa sobre o seu tipo de cabelo? Já presenciou ou mesmo já praticou esse tipo de ação com alguma colega? Essas são algumas das perguntas feitas no questionário desenvolvido por três jovens estudantes do 7º ano da escola estadual E.E. Leila Mara Avelino, em Sumaré, no interior de São Paulo, e que resultaram em um estudo de caso sobre cabelo, autoestima e racismo.

Motivadas a investigar por que a maioria das meninas negras que conheciam alisava o cabelo quimicamente, Isabelle Ribeiro (14), Ana Clara da Silva Rocha (14) e Ana Beatriz Maluf (13), decidiram aplicar um questionário na escola em que estudam e transformar as respostas obtidas em um estudo de caso: Cabelo, autoestima e construção da identidade da menina negra no Ensino Fundamental II.

A inspiração veio a partir das aulas de História da professora Eliana Cristo de Oliveira, que hoje é também a orientadora do projeto e que sempre incentivou debates sobre racismo estrutural, desdobramentos da herança da escravidão, além de falar sobre aspectos culturais afro-brasileiros.

Durante uma dessas discussões, as alunas se questionaram sobre o que estava por trás da autoestima dos negros dentro do ambiente escolar no qual conviviam.  “Tivemos um caso de uma estudante que saiu da escola por conta de piadas feitas em relação ao seu cabelo. Essa foi uma história central para nortear o trabalho das meninas”, relata Eliana.

Outro fator determinante para elaborar o estudo foi uma visita da turma à FEBRACE (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), em 2017. O evento é promovido pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), e seleciona estudantes de todo Brasil para desenvolverem projetos científicos.

Em 2018, a pesquisa Cabelo e Autoestima foi inscrita e se classificou entre os 346 projetos finalistas, de 2.235 projetos enviados, durante apresentação na feira. A partir disso, foram estabelecidas as diretrizes para definir melhor o formato e aplicar o estudo.

 

Dados e Conclusões

Uma vez definida a metodologia, as perguntas do questionário, montado sob orientação da educadora Eliana, foram aplicadas aos 327 alunos da escola. O resultado intrigou as pesquisadoras em um primeiro momento. Apenas 29% relataram terem sido vítimas de comentários em relação a seus cabelos e quase 11% sequer responderam à questão.

Contudo, ao analisarem as respostas dos alunos sobre piadas em relação a outros colegas, houve uma mudança no resultado: 18% relataram que sempre presenciaram comentários discriminatórios e 60,5% declararam terem presenciado esse tipo de comportamento algumas vezes. Somente  18,5% dos alunos negaram a existência de comentários pejorativos.

“A gente observou nos resultados que a maioria deles declarava perceber o racismo, mas não participar ou sofrer diretamente com ele. Esse foi o nosso ponto de partida: algo estava errado. Será que eles, na verdade, tinham medo de falar que sofreram racismo, por medo de sofrer ainda mais? Será que as pessoas que praticam não querem falar por vergonha?”, conta Ana Beatriz Maluf.

 

Desdobramentos

Para aprofundar as questões abordadas ao longo do desenvolvimento da pesquisa e como forma de apoio, foi criado o clube estudantil Naturalmente Cacheada. Inicialmente, 27 meninas se reuniram para dar continuidade ao debate sobre autoestima, no entanto, houve pouca adesão entre negras e cacheadas.

Imagem mostra grupo de meninas e meninos do clube Naturalmente Cacheada posando sentados e em pé

Esse fator funcionou como indicador de um dos principais problemas a serem trabalhados: a questão do reconhecimento de identidade. Isso foi comprovado por meio de um novo questionário, voltado somente para as meninas negras, com perguntas mais específicas sobre os motivos pelos quais optaram por terem cabelos lisos.

Naturalmente Cacheada mantém a autoestima e o empoderamento como foco e busca engajar alunos de fora do coletivo com saraus, visitas a casas de cultura, palestra com personalidades, entre outras atividades. O clube já conta com 37 alunos e coleciona histórias de meninas que estão em constante redescobrimento, abandonam o alisamento químico e vão além, ao questionar seu papel na sociedade e na mídia.

Pesquisa de estudantes da rede pública relaciona preconceito a autoestima
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