O site Mapa da Infância Brasileira foi desenvolvido para colocar em diálogo iniciativas que trabalham para a infância
Criando situações de diálogo, iniciativa de cidadania digital estimula a criação espaços de construção compartilhada.
“Somos todos concreto / Tem que definir / Se vai ser muro / Ou vai ser ponte”. A referência, do rapper e produtor musical brasileiro Emicida, foi cuidadosamente selecionada pela artista multimídia Marie Ange Bordas como um elogio à realização da primeira roda de conversa organizada pelo Mapa da Infância Brasileira (MIB), em parceria com a UMAPAZ (Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz). “A conversa respeitosa”, sublinhou Marie, “é condição mínima para vivermos juntos e democraticamente, apesar de todas as diferenças”.
À sua reflexão se entrelaça a proposta central do MIB: ser uma plataforma de aprendizagem colaborativa, reunindo projetos de diferentes naturezas – institutos, fundações, redes, órgãos públicos, ONGs e coletivos –, que falam de diferentes formas e lugares sobre a criança na sociedade. Neste ambiente virtual, os participantes inserem e acessam artigos, relatos de experiência, pesquisas, entre outros conteúdos.
“Pensamos em envolver as pessoas em todas as etapas. Não falamos por elas, mas criamos um espaço para que os próprios usuários proponham o que querem conversar”, afirma a gestora de comunicação do Mapa, Ana Helena Oliveira.
Lançado em setembro de 2015, o portal funciona a partir de um movimento complementar: de um lado, ele cria oportunidades de participação e expressão, de outro, os usuários se engajam, utilizando este espaço e seus recursos. Hoje, pouco mais de seis meses após seu lançamento, conta com mais de 13 mil acessos mensais. “Estamos experimentando essa adesão virtual. Ainda esperamos mais diálogos, mas essa é outra etapa”, revela Ana Helena.
A roda de conversa inaugurou uma série de encontros presenciais que, ao longo de 2016, devem reforçar a missão do Mapa de articular ações em rede entre os diversos atores sociais e iniciativas em torno da causa da infância para fortalecê-los. A ideia é também que os conteúdos resultantes dos encontros alimentem a plataforma, gerando insumo para novas conversas.
Na opinião da convidada Marie Ange, que, entre outros projetos de arte participativa e alfabetização visual, desenvolveu o Tecendo Saberes – um registro da riqueza cultural das comunidades tradicionais brasileiras por meio dos conhecimentos infantis –, o MIB, assim como cada projeto compreendido ali, contribui para criar “espaços onde nos sentimos seguros para construir juntos; onde há uma ação individual, mas principalmente uma ação coletiva de estar no mundo, transformando-o”.
Ela explica que, como a premissa dos trabalhos é a convivência e a criação conjunta, sua produção funciona de forma diferente dependendo do lugar onde estão inseridos. “O conhecimento é delas, as crianças são as detentoras do saber. É preciso que percebam que sabem e têm a voz. Elas são as protagonistas!”.
Compartilhando esse espaço de encontro, Roberta Asse, Lindalva Souza e Gabriela Romeu (como mediadora), apresentaram seus trabalhos, respectivamente Crianças Daqui, Vozes da Infância Brasileira e Infâncias, que trazem em comum a vontade de ampliar o olhar para a infância. Para a arte-educadora Lindalva, que coordena a área de pesquisas do Mapa, os educadores têm um desafio de comunicação na relação com as crianças e jovens e precisam estar “aparelhados” para observá-los. “O quanto temos olhos para essa manifestação das crianças que pode ser conteúdo da nossa prática cotidiana?”, instiga a educadora. “São poetas em potencial”, acredita.
Para participar, como orienta o infográfico na plataforma, o primeiro passo é fazer o cadastro (como pessoa física) e tornar-se membro. Ao finalizar, o usuário pode inserir tanto iniciativas, registrando-as no mapa geográfico brasileiro, quanto conteúdos, que vão alimentar as rotas temáticas: vozes, cidade, expressões, diversidade, transformação etc. “Neste momento, existe essa categorização, mas outros temas estão gerando novas discussões. Quem sabe daqui a uns meses acrescentamos outras rotas? Não é para ser estático”, afirma Ana Helena.
E então? Ser muro ou ponte? A partir do convite do Mapa da Infância Brasileira, fica fácil decidir.