Através da criação de um podcast escolar, estudantes são incentivados a colaborar e refletir sobre temas multidisciplinares
Para ouvir um podcast, basta um celular e um fone de ouvido. E para gravar um podcast, também basta um celular e um fone de ouvido. Essa facilidade – aliada a seu potencial pedagógico -, tem ajudado podcasts a ganhar espaço dentro da comunidade escolar.
Fatores como dinamismo e versatilidade na produção de podcasts fazem com que professores enxerguem esse tipo de mídia como uma possibilidade educativa. Através da criação de podcasts, estudantes são estimulados a refletir sobre temas multidisciplinares, aperfeiçoando habilidades de linguagem, como texto e oralidade. Ademais, competências como colaboração e criatividade também são valorizadas neste momento.
Segundo dados de 2019 do Ibope, 40% dos internautas brasileiros já ouviram podcasts. Os jovens lideram a popularidade do formato, com 47% das pessoas entre 16 e 24 anos tendo afirmado que já ouviram programas em áudio.
Ainda de acordo com o Ibope, durante a pandemia o número de ouvintes brasileiros saltou de 21 milhões para 27 milhões, e a consolidação de podcasts distribuídos no YouTube (os chamados videocasts) deve impulsionar ainda mais esses números.
Podcast: mão na massa
De acordo com Jessé Geminiano Júnior, professor de geografia da ECI Padre Ibiapina, em João Pessoa (PB), o uso da ferramenta no ensino médio ajuda a manter a turma engajada. Ao passo que ajuda a revisar conteúdos, também envolve os jovens em atividades “mão na massa” durante a produção do programa.
Foi durante o fechamento das escolas na pandemia que Jessé deu início ao podcast escolar Geo+. Ele conta que os estudantes participam do processo dando sugestões, bem como dicas de temas e conteúdos a serem explorados. “Tivemos que nos reinventar e pensar estratégias metodológicas para engajar os alunos, tornando assim a aula mais atrativa”, observa.
Podcast como ferramenta de ensino
Com o retorno ao ensino presencial, os próprios estudantes já começam a participar das gravações. Assim, os conteúdos variam entre os temas das aulas de geografia e assuntos presentes na vida dos estudantes, como globalização, saúde emocional e sustentabilidade, além de outros conteúdos previstos na BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
Para realizar as gravações e edições, o professor utiliza o aplicativo Anchor, muito recomendado pela facilidade de uso. Com o episódio publicado, começa a divulgação, realizada principalmente através de grupos de WhatsApp. “Aos professores que desejam começar a usar o podcast como ferramenta de ensino, minha dica é não ter medo do novo. Pois precisamos investir nosso tempo em inovar, aprender e sempre buscar conhecimento. Isso é prazeroso e nos enriquece enquanto profissionais do ensino”, conclui Jessé.
Simplicidade na produção
Coordenador do Núcleo de Educomunicação da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, o educador Carlos Lima é também fundador da Imprensa Jovem, que desde 2005 leva projetos multimídia para as escolas paulistanas. A intenção é que, através das mídias digitais, os estudantes possam repercutir suas ideias.
Hoje, quase 400 escolas da cidade implementam projetos de educomunicação. De acordo com Lima, antes mesmo da febre dos podcasts, diversos estudantes já produziam conteúdo em formato de áudio. “Se o jovem já descobriu que usar podcast para divulgar entrevistas tem alcance na comunidade, que tal formar os professores para inserir esse conteúdo nas aulas?”, questiona.
A simplicidade na produção é um dos pontos-chave para que o podcast seja incorporado cada vez mais como prática pedagógica. Afinal, são necessários apenas um celular, um fone de ouvido com microfone e o aplicativo Anchor, já citado por Jessé, para que o podcast ganhe vida.
Podcast escolar em sete passos
Com o apoio de Carlos Lima, listamos a seguir sete passos importantes para a criação de um podcast escolar:
- Aprender sobre educomunicação – “Isso dá ao professor as condições de pensar em produzir mídia com os estudantes, e não para eles. Estimulando assim a participação ativa.”
- Dividir a classe em pequenas equipes plurais – além de garantir diversidade de abordagem, é uma maneira de revezar as produções semanais.
- Aprender tecnologias para a produção de podcasts – software livres, como Audacity e Anchor, facilitam a criação, publicação e divulgação gratuita dos programas.
- Priorizar formatos simples – “O podcast tem que ser uma boa conversa. É importante que flua de forma leve. Gravando rodas de conversa a partir de uma discussão, o programa vai estar praticamente pronto.”
- Criar uma estratégia de divulgação – “É importante que a comunidade escolar tenha acesso ao programa, para que a informação seja compartilhada.”
- Pensar no público-alvo e na duração do programa – “Comece com podcasts de cinco minutos, e vai verificando se tem público. É fundamental pensar na linguagem e na forma como o público irá te entender.”
- Procure ser autoral – “A autoria tem a ver com o processo criativo. Uma boa conversa é sempre uma novidade, e ser autoral potencializa a criatividade das pessoas.”
Podcast escolar ainda tem muito potencial
Criador do Papo de Educador, podcast que divulga novas ideias, teorias e boas práticas em educação, o professor e educaster Damione Damito também reforçou a importância da utilização da ferramenta como prática pedagógica. “Professores precisam estar atentos às tendências. Afinal, parte importante da educação é o que vem de dentro do estudante, e a tendência é que ele consuma cada vez mais esse tipo de mídia”, aponta.
Damito acredita que o podcast escolar ainda é subutilizado por educadores em geral e, por isso, possui enorme potencial. “Assim como qualquer tipo de produção, a riqueza não está no programa final, mas sim no processo criativo”, observa. Ele sugere que, para além dos temas centrais de cada disciplina, o professor pode abordar assuntos que tangenciam a aula, buscando complementar o aprendizado.
O professor também participa do podcast Educa5. Nele, há uma série de episódios que discute as possibilidades pedagógicas do uso da ferramenta.
Por fim, ele cita um ponto importante, que deve ser cumprido durante a produção de podcasts nas escolas: o respeito aos direitos autorais. “É necessário citar fontes e dar créditos. Pensando na questão da privacidade e na Lei Geral de Proteção de Dados, será que posso pegar o conteúdo produzido por alunos menores de idade e distribuir publicamente? Talvez faça mais sentido fazer um grupo de WhatsApp ou Telegram e distribuir diretamente para a comunidade escolar.”