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Entenda a importância de pensar serviços e produtos digitais acessíveis e como desenvolvê-los com a participação de um profissional de Experiência do Usuário (UX)

#42SãoPaulo#Inclusão#MercadodeTrabalho

Estudante desenha gráficos de para projetos digitais

Acessibilidade é a possibilidade de alcançar qualquer lugar, produto, serviço ou informação com segurança e autonomia, sem nenhuma barreira. Quando falamos em tornar os “espaços acessíveis”, também estamos nos referindo à internet. A acessibilidade digital é uma série de recursos que possibilita a navegação e a interação de qualquer pessoa pelas redes de maneira independente.

Há um pensamento equivocado de que a acessibilidade digital é focada apenas em Pessoas com Deficiência. No entanto, pensar sobre o assunto é pensar em todos: aqueles com mobilidade reduzida, os indivíduos que não são fluentes no idioma nativo, os novos usuários, as pessoas mais idosas que geralmente não tem fluência digital, dentre outros exemplos.

“Quem tem ansiedade, tão comum agora na pandemia, por exemplo, não vai querer responder um formulário enorme. Isso pode ser gatilho para uma crise”, chama a atenção a UX Designer Joyce Rocha. “Infelizmente as tecnologias ainda são excludentes”, lamenta ela. Joyce trabalha focada em pesquisas de acessibilidade digital e é cofundadora da startup aTip, que atua construindo conexão entre pessoas neurodiversas – aquelas que possuem variações neurológicas naturais, como dislexia e autismo – e o mercado de trabalho.

“Eu atuo nesta área por muitos fatores, e um deles é porque as pessoas com algum tipo de deficiência são invisibilizadas dentro do processo de criação de produtos e serviços”, conta. A designer é autista e foi diagnosticada com o transtorno há sete anos.

Há 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, de acordo com a pesquisa de 2010 do IBGE, mas, segundo Joyce, apenas 1% dos serviços e produtos digitais são acessíveis para esta parcela da população.

O profissional de UX, User Experience (Experiência do Usuário, em português), é um dos responsáveis por trazer essas discussões e questionamentos para um projeto, além de atrair e agregar usuários mais diversos dentro dos produtos e serviços criados. Ele desenvolve estratégias para entregar às pessoas experiências com base em um design responsivo, agradável, organizado e intuitivo.

Experiência do Usuário (UX)

Os cinco principais pontos dentro de UX:

  • Atrativo visual: é fundamental contar com uma apresentação interessante aos olhos. Isso vai fazer com que o usuário permaneça por muito tempo na página e seja surpreendido pelo seu valor estético.
  • Utilidade: o conteúdo precisa ser útil e entregar o que o usuário quer.
  • Navegabilidade: o acesso ao material deve ser facilitado. Independentemente da forma como a pessoa chega até a página (notebook ou smartphone), a facilidade deve ser a mesma. Considerando os formatos de cada dispositivo, o design deve ser adaptado. Isto se chama “criar um design responsivo“.
  • Intuitividade: o nível de intuitividade de um produto é o quão simples ele é para um usuário de primeira viagem.
  • Desempenho técnico: o usuário pode ficar desconfortável ao navegar pelo site, com muitos problemas técnicos, como a velocidade no carregamento do conteúdo.

Fonte: Digital House

Nos últimos seis anos, Laercio Candido, professor e cadete da primeira turma de estudantes da 42 São Paulo, lecionou em uma escola para alunos surdos. Para o educador, a acessibilidade digital para esta comunidade ainda é bastante falha.

A primeira língua dos surdos brasileiros é a dos sinais e não o português. “A maioria dos sites não tem esta aplicação. Se está escrito apenas em português, não atende a maioria das pessoas surdas”, afirma Laercio.

Outro ponto ressaltado pelo educador é a de que os surdos utilizam muito da visão para se comunicar e, infelizmente, boa parte das páginas não são acessíveis de forma imagética. “Seja em escolha de paleta de cores, seja em tamanho ou tipo fonte, a maioria dos sites não é acessível. Pensa-se muito na estética e no design, mas não em acessibilidade ou em gerar maior conteúdo para o maior número de pessoas”, lamenta.

Diversidade e tecnologia 

“Infelizmente, dentro das empresas, ainda existe a cultura de entregar uma feature (recurso), ou um aplicativo, sem ter a preocupação de como é a experiência do usuário na ponta”, conta Joyce Rocha. Ela questiona o quanto a equipe responsável pelo desenvolvimento dos produtos considera a diversidade de contextos e pessoas na sociedade.

Uma reportagem recente produzida pelo portal UOL trouxe um debate sobre como os algoritmos de plataformas e redes sociais ainda precisam passar por aprimoramentos, já que reproduzem falhas e reforçam estereótipos discriminatórios, no que chamaram de Racismo Calculado. A matéria exemplifica com casos de sistemas de reconhecimento facial usados para justificar prisão de homens negros que, depois, provaram serem inocentes. Ou filtros de redes sociais estimulam mudanças em fotos que permitem afinar o nariz e clarear a pele, reforçando estereótipos discriminatórios de beleza.

Para isso, o educador ressalta a importância de existir um time de tecnologia mais diverso. “Se você já tem essa pessoa dentro da equipe, de forma inerente, ela vai querer que aquele produto sirva para ela e tentar produzir para pessoas que vivem no mesmo contexto”. Ele finaliza ao dizer que, apesar dos benefícios de mercado que um time diverso traz às empresas, esta também é uma questão de “equidade e justiça”.

Joyce tem a mesma opinião. Para criar um produto que quer abranger uma comunidade, pessoas que representam esta comunidade tem que estar dentro das equipes desenvolvedoras.

Primeira cadete com deficiência visual da 42, Luciana Oliveira almeja modificar a perspectiva sobre inclusão digital

Luciana Oliveira, a primeira cadete com deficiência visual na 42 São Paulo

A relações públicas e desenvolvedora de sistemas Luciana Oliveira perdeu completamente a visão aos 20 anos. Ela conta que tanto nos estudos quanto no trabalho, encontrou obstáculos em relação à acessibilidade. Cansada da situação, decidiu mudar de área e estudar Desenvolvimento de Sistemas.

“Entrei em vários grupos nas redes sociais e, em um deles, fiquei sabendo sobre a 42 São Paulo e me identifiquei.” Segundo ela, as pessoas na instituição nunca colocaram a deficiência como se fosse um empecilho, o que a permitiu mostrar o quanto tem para crescer. “Decidi me preparar para atuar como UX por acreditar que, além de ter uma carreira promissora, poderia contribuir para ampliar a inclusão, acessibilidade e representatividade de uma parcela importante de cidadãos que possuem algum tipo de deficiência.” conta a profissional no blog da instituição.

Leia mais: “Aqui nos tratamos como iguais, respeitando as diferenças”

Há muita coisa para evoluir, mas Joyce se diz animada. “A gente não parou no tempo”, afirma. Já há um forte movimento para levar maior diversidade ao mercado de trabalho e ocupar espaços antes excludentes.

“Não dá mais para gente criar a tecnologia pela tecnologia. Ela tem o objetivo de atingir alguém e a gente precisa se conectar cada vez mais com as pessoas que serão atingidas por aquilo o que estamos criando. O UX design tem importância fundamental para fazer este tipo de ponte”, finaliza a especialista.

Por que acessibilidade digital é essencial nos dias de hoje
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