Quatro professoras da aldeia indígena Tapirema desenvolveram um livro didático em tupi-guarani para aproximar os alunos da língua nativa e das tradições indígenas

Guaciane Gomes é professora e uma das lideranças da aldeia Tapirema, localizada em Peruíbe (SP). Em 2019, ela criou um livro didático em tupi-guarani, em parceria com três professoras da aldeia indígena.
A sugestão de desenvolver o material partiu de Karen Villanova, a única não indígena envolvida no projeto. Ela notou a falta de materiais didáticos em língua nativa para alfabetizar as crianças e os jovens da aldeia durante a gravação de um documentário.
De acordo com Guaciane, a ausência desse tipo de recurso é uma das maiores razões que levam ao apagamento da cultura indígena. Uma vez que os jovens da aldeia estavam se afastando da cultura e do idioma do seu povo de origem devido à falta de materiais em língua nativa e à superexposição à tecnologia. Por isso, a publicação é considerada uma tentativa de resgate cultural.
“Para fortalecer nossa cultura é preciso ter mais livros publicados por indígenas, mais professores indígenas e intercâmbios de culturas. Uma escola indígena diferenciada é aquela onde você pode viver seu modo de vida dentro da sala de aula. Temos que valorizar nossa cultura em todos os espaços”, declara.
O material desenvolvido pelas professoras é direcionado às crianças em fase de alfabetização. Dessa maneira, os conteúdos são baseados na cultura indígena, sem deixar de lado o lúdico que engaja alunos dessa faixa etária.
Cada uma das professoras integrantes do projeto contribuiu de forma diferente. Só para exemplificar, a professora Catarina – uma das anciãs da aldeia Tapirema – foi a responsável pela tradução das palavras em tupi-guarani. Sendo assim, a publicação poderá estimular a curiosidade dos pequenos a traduzirem e tirarem suas dúvidas sobre as palavras com os mais velhos.
Livro didático em tupi-guarani: desafios para a implementação
Apesar de o livro didático ter sido desenvolvido em 2019 pelas professoras, o material está previsto para ser publicado no final do mês de fevereiro e a Fundação Nacional do Índio (Funai) será apoiadora do projeto.
“A Funai acreditou no nosso sonho e ele vai ser realizado. Trabalhamos nesse livro durante dois anos, foi um desejo da comunidade. Nossa maior dificuldade para lançar livros é a questão dos apoiadores. Não só para esse livro que finalizamos, mas para vários outros. Pois muitas pessoas têm o dom de escrever e fazer atividades em tupi-guarani, mas não temos o apoio necessário”, relata Guaciane.
E isso significa muito para a comunidade. Afinal, a falta de materiais como o livro didático em tupi-guarani impacta diretamente no contato dos alunos com a língua. Nesse sentido, também dificulta o processo de ensino em comunidades indígenas.
Guaciane conta que a parceria com a Funai também resultou na criação de um material sobre prevenção à Covid-19. Esse conteúdo foi elaborado por iniciativa da própria comunidade.
“Nós conseguimos desenvolver uma cartilha sobre Covid que será lançada também este ano. É muito gratificante realizar esse sonho que não é só meu”, conclui.
Educadores indígenas que trabalham pelo resgate das tradições
Em nossas publicações, já contamos as histórias de outros professores indígenas que assim como a professora Guaciane também se dedicam a manter as tradições de seus povos:
Professor Karai Tataendy: o educador incluiu na grade curricular da Escola Estadual Indígena Guarani Gwyra Pepó, localizada na Terra Indígena Tenondé Porã (extremo sul da cidade de São Paulo), o ensino da língua e cultura tupi-guarani.
Professor Juvêncio Cardoso: o educador indígena, natural da aldeia Santa Isabel (AM), criou uma rede de escolas baniwa para manter viva a cultura, as tradições e os conhecimentos do seu povo de origem.