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Brincadeiras de outros países, gamificação e discussões sobre temas importantes foram algumas das estratégias utilizadas pelos educadores durante o ensino remoto.

#Educação

Imagem mostra mãe e filhos fazendo atividades físicas na sala de casa.

Com o fechamento das escolas, os profissionais de Educação Física do Ensino Básico tiveram que repensar novas formas para promover o ensino remoto da disciplina.

As medidas restritivas adotadas para conter o contágio da COVID-19 afetaram o nível de atividade física dos alunos e os benefícios da prática de atividade física nas crianças são inúmeros: desenvolvem habilidades na coordenação motora ampla e fina, na agilidade, na força, resistência e concentração.

“Além de criar hábitos saudáveis, prevenindo a obesidade e o sedentarismo que aumentou muito em tempos de pandemia“, complementa a professora Anne Caroline Oliveira, que ministrou aulas de Educação Física em 2020 na rede municipal de ensino de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina.

“O corpo é feito para se movimentar. É na Educação Física que liberamos hormônios que dão uma sensação de prazer e fazem com que todas as atividades que precisamos realizar naquele dia, como tarefas escolares, sejam mais tranquilas”, compartilha Thalita Reis, professora de uma escola particular em São Paulo. Ela ainda pontua que se movimentar é urgente para as crianças pois estas estão em fase de desenvolvimento cognitivo, motor e emocional.

Estando a maior parte do tempo em casa, ou em apartamentos, muitos estudantes têm apenas na aula de Educação Física a oportunidade de se exercitar com acompanhamento profissional.

 

Pulando de um avião em movimento

Diogo Inácio Dias, professor de Educação Física de duas escolas particulares na região metropolitana de São Paulo, define o começo da pandemia como “os professores sendo empurrados para fora de um avião em movimento, com um paraquedas nas costas. O detalhe é que não sabíamos muito bem como usar o paraquedas”.

A professora Anne Caroline sentiu este “pulo no desconhecido”. Ministrando aulas para crianças da pré-escola, ela dependia do apoio das famílias para que os estudantes fizessem as tarefas. “Além da distância e da falta de acesso de alguns dos alunos ao ambiente virtual, minha principal dificuldade foi a falta de interesse de algumas famílias em realizar as atividades”. Assim, a estratégia encontrada por ela foi utilizar materiais alternativos para não sobrecarregar os pais. Já a professora Thalita Reis, por trabalhar em um colégio em que os alunos já estavam habituados aos dispositivos eletrônicos, não enfrentou dificuldades de conexão. “O maior desafio foi a motivação de nós professores. A gente ama estar em contato com o aluno, e estávamos acostumados a ter uma quadra inteira à nossa disposição. Na pandemia nós só tínhamos um quadradinho com um tapete”, conta.

Veja a seguir, como os professores mantiveram os alunos em movimento durante o isolamento social.

 

Diversão como um recurso

Em ambas as escolas em que atua, Diogo Dias trabalha para reestruturar o currículo de Educação Física não apenas adequando-o à BNCC, mas pensando em uma prática mais humana e enxergando o corpo como pulsante, crítico, comunicativo e que quando se move, faz poesia, conta, comunica e fala.

“Acredito muito no ensino por meio do afeto e da diversão. É muito mais gostoso aprender algo quando há divertimento”, conta ele. O divertimento de fato foi um caminho que ele buscou explorar nas aulas. “Em isolamento, sem ver os amigos, sem correr, brincar, jogar, esportes, fechados em apartamentos e expostos diariamente a muitas horas de tela, tentei, dentro do possível, construir um ambiente de experiência que fosse divertido e empolgante”.

Professor de Educação Física, mas também palhaço, Diogo tentou criar um espaço que valorizasse a improvisação, a experimentação e o divertimento. Com a turma de 2º ano do Fundamental I ele desenvolveu um projeto em que a cada bimestre os estudantes “viajavam” para uma região do mundo (América Latina, Ásia, Oceania e África) e lá conheciam um pouco da cultura das regiões e países através de jogos e brincadeiras.

Outro projeto que deu bastante engajamento com os alunos foi a aprendizagem de capoeira. “Semanalmente, entrava com eles em videoconferência e ia ensinando golpes, movimentos, esquivas e ia, pouco a pouco, criando sequências de movimentos”, conta Diogo.

Usando baldes virados de boca para baixo, o professor ensinou a fazer a batida do atabaque na capoeira e debateu a importância do tambor como entidade nas manifestações de matriz africana (como o jongo, por exemplo). Ensinou também a batida de Maculelê, que é bastante similar a uma das raízes da batida do funk.

“O bacana é que os alunos, pela demanda de ‘falar com o corpo’, foram embarcando nas propostas, trabalhando ativamente em videoconferências e produzindo as atividades e me mandando os registros”, comemora o professor.

Diversificando conteúdos

Anne Caroline utilizou diversos formatos para conseguir passar os conteúdos previstos para os alunos: vídeos, desenhos, pesquisas e croquis (esboços de traços simples, sem a necessidade de grandes detalhes no desenho). Com as turmas dos anos iniciais, as aulas sempre vinham acompanhadas de explicação, imagens e vídeos complementares. “Como eu também sei que muitos pais têm o dia corrido devido ao trabalho, sempre tentei fazer aulas simples e objetivas”, explica Anne.

Durante o ano, ela procurou não repetir tarefas, buscando atividades de interação sempre próximo dos finais de semana, assim os pais poderiam participar e ter um momento de socialização com os filhos.

Com os alunos maiores a professora optou por apresentar esportes diferentes do que eles estavam habituados em quadra, como polo aquático, rugby e hóquei. Ela também trabalhou com a produção de jogos usando materiais recicláveis. “Tive devolutivas excelentes”, afirma. Com um cabo de vassoura, para substituir o taco, uma bolinha de papel, e uma caixa, os alunos jogaram o críquete e golfe dentro de casa.

A educadora ainda buscou reproduzir jogos indígenas e africanos, como o jogo de tabuleiro Shisima de origem queniana, e o jogo da onça. “Os alunos reproduziram o tabuleiro de Shisima e jogaram com os membros da família. Todos os jogos foram feitos com materiais alternativos, como tampinhas de garrafa pet, papel, papelão, garrafas pet”, lembra Anne.

Gamificação

A professora Thalita Reis leciona a modalidade de handebol feminino para a categoria mirim (7º, 8º e 9º ano). Ela afirma que a melhor estratégia foi trazer gamificação às aulas. “Nós utilizamos, por exemplo, o Among Us. Dentro do jogo eles tinham que descobrir quem é o jogador impostor, e para isso era necessário o diálogo”. Ao fim da brincadeira, a turma teve uma conversa sobre como a comunicação é importante no esporte, e nas atividades desenvolvidas no dia a dia.

As atividades gamificadas nem sempre necessitam de algo eletrônico, como o Among Us. “A gente planejava uma atividade de manipulação de bola, mas passava ela de forma competitiva. Ao invés de só realizar o exercício elas realizavam em sequência de grupo: quem terminar primeiro ou quem fizer mais vezes ganha”.

Uma das atividades feitas foi a caça ao tesouro. Divididos em equipes realizavam tarefas – como acertar uma garrafa com uma bolinha de meia – filmavam, mandavam para a professora e ganhavam pontos. Talita conta que o retorno foi muito positivo.

Professores de Educação Física criam novas estratégias de ensino na pandemia
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