Usando produção midiática, QR codes e um muro, estudantes de uma escola municipal da zona sul de São Paulo trouxeram a temática de desenvolvimento sustentável para mais perto da comunidade escolar
Um mural colorido entre muitos outros pode não chamar muita atenção. Mas o que dizer de uma parede que fala? Estudantes da Vila Isa, zona sul de São Paulo, encontraram uma forma de interagir com o espaço escolar através de um projeto de Educomunicação. A proposta: ressignificar o aprendizado sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), que se fundamentam na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Os ODS tornaram-se tema principal em um dos muros da EMEF Professor Laerte Ramos de Carvalho.
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram estabelecidos em 2015 e são resultado do compromisso assumido com a Agenda 2030, discutida pelos países-membros em Assembleia Geral da ONU. As metas visam um desenvolvimento sustentável para as mais diversas esferas da sociedade, envolvendo educação, igualdade, trabalho e saúde, promoção da paz, preservação do meio ambiente, entre outras estratégias para transformar o mundo como o conhecemos.
Antes do projeto, os desenhos no saguão na escola diziam muita coisa aos estudantes. A parede da frente, por outro lado, tinha uma grande asa pintada que servia como pano de fundo para as fotos postadas nas redes sociais. Em uma visita técnica à escola, o coordenador do Núcleo de Educomunicação da Secretaria Municipal de Educação (SME), Carlos Lima, notou que o potencial de aprendizado estava sendo desperdiçado naquele espaço.
“Perguntei aos estudantes qual era a opinião que tinham sobre aquela parede e eles não sabiam exatamente o que significava. A partir de então, veio a ideia de trazer informação sobre os ODS para a escola. A turma decidiu produzir pequenos programas de rádio sobre cada objetivo, gerando um link e colocando QR Codes no muro para que qualquer um pudesse acessar. Daí o nome: A Parede que Fala”, explica o educador.
Educomunicação em prática
Não foi a primeira vez que a EMEF Prof. Laerte Ramos de Carvalho entrou em contato com os ODS ou projetos de educomunicação. A rede municipal paulistana passou a incluí-los no currículo escolar desde 2017. No entanto, foi no ano de 2019, que a iniciativa do muro trouxe a temática para mais perto da realidade dos estudantes da escola.
A consultoria da SME foi solicitada pela professora Karen Sellis, que inicialmente tinha a intenção de retomar o projeto Imprensa Jovem, para trabalhar a perspectiva de alfabetização midiática informacional com os jovens do nono ano do Ensino Fundamental. A visita resultou na nova ideia, que uniu a proposta de uma aprendizagem significativa à produção de mídia.
“Os alunos foram protagonistas o tempo todo, fazendo pesquisas para se apropriar do assunto, entrevistas com funcionários da escola e escrevendo os roteiros dos áudios que também foram editados por eles na etapa final”, conta a educadora. “Essa iniciativa conseguiu se tornar uma ação concreta para toda a comunidade escolar”, afirma.
Além disso, a turma também contou com a ajuda da jornalista Maria Rehder, consultora da UNESCO no Brasil, que realizou formações para guiar os estudantes no aprofundamento do tema. A Secretaria também disponibilizou oficinas de criação de áudio e vídeo para viabilizar o projeto e tornar a experiência mais completa.
Leia mais: Podcast: como usar em sala de aula?
Reconhecimento internacional e protagonismo jovem
A experiência foi tão bem sucedida que ganhou reconhecimento internacional. A convite da UNESCO, Carlos Lima participou de um Congresso de Educação Midiática em Gotemburgo, na Suécia, onde falou sobre o projeto “A Parede que Fala”. A iniciativa foi considerada uma ação inovadora em prol da educação e da sociedade como um todo.
“A produção de conteúdo interdisciplinar pelos jovens consegue trazer essas temáticas que são cotidianas para eles. O que a Educomunicação tenta ressignificar é o como. Estamos vislumbrando a participação do estudante na construção de uma sociedade melhor, a partir do protagonismo e das intervenções sociais que serão capazes de fazer em suas comunidades”, acrescenta o coordenador.
Na opinião dos estudantes, trabalhar a partir de projetos ajuda a trazer uma sensação de pertencimento e de aprofundamento dos conteúdos de uma forma completamente diferente do que estão acostumados.
“São como estudos descontraídos e dinâmicos que nos trazem mais interesse. Tive um acesso privilegiado a esse conteúdo e me sinto no dever de passar a mensagem do que são os ODS e como podem nos ajudar”, afirma Geovanna Sousa, 14, que ficou responsável pelo objetivo relacionado à saúde e bem-estar.
Para a estudante Ana Victoria, a parede agora deixou de ser apenas um detalhe no cenário da escola para se tornar um exemplo de educação inovadora. “Os ODS me mostraram que com força e união podemos sim conquistar mudanças na sociedade. Saber que não estamos sozinhos no trabalho por essas metas me alegra e inspira”, finaliza.