O projeto Mangues da Amazônia forma crianças, jovens e adultos para transformar comunidades a partir da educação ambiental. Saiba mais!
Nem só de floresta terrestre é feita a Amazônia. É no encontro entre as águas do mar e dos rios que nasce um dos ecossistemas mais importantes para a manutenção da biodiversidade: os manguezais.
A região amazônica concentra a maior faixa contínua de manguezais do mundo. Não à toa, o projeto Mangues da Amazônia surgiu com o objetivo de preservar os cerca de 8 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa na zona costeira do Pará, Maranhão e Amapá.
Nesse sentido, os pesquisadores da Associação Sarambuí e do Instituto Peabiru idealizaram um projeto que envolve ações pedagógicas e ambientais nas Reservas Extrativistas Marinhas (RESEX) do Pará. Para isso, contaram com o apoio da Universidade Federal do Pará (UFPA).
As Reservas Extrativistas Marinhas(ResEx) foram criadas para que as comunidades tradicionais possam extrair os meios de subsistência ao mesmo tempo em que protegem o meio ambiente.Atualmente, a gestão das unidades de conservação é feita pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e pelos líderes comunitários locais.
“Antes de tudo, nossa ideia é aproximar a relação entre as comunidades locais e o manguezal através da pesquisa e da educação ambiental”, afirma Ádria de Carvalho, doutora em Biodiversidade Aquática e membro da Associação Sarambuí.
“Frequentemente, os seres humanos se vêem separados do meio ambiente. Sendo assim, o papel da educação ambiental é devolver a responsabilidade que temos sobre esse ecossistema. Afinal, como posso proteger algo que desconheço?”, reflete Ádria.
Educação ambiental em ação!
Desde 2018, o Mangues da Amazônia faz parte do Programa Socioambiental da Petrobras, que patrocina a iniciativa. Todavia, devido a pandemia de coronavírus, as ações presenciais só puderam iniciar em 2021.
Nesse meio tempo, a equipe firmou parcerias locais para criar programas que fizessem sentido para a realidade das três reservas em que atuam. Elas estão localizadas nas cidades de Bragança, Tracuateua e Augusto Corrêa (PA).
Dessa forma, o projeto foi dividido em duas frentes de trabalho: ambiental e socioambiental. A primeira foca no reflorestamento dos manguezais, na pesquisa sobre a retenção de carbono e na defesa do caranguejo-uçá, uma das espécies-chave do bioma.
Já a frente socioambiental organiza ações educativas para todas as faixas etárias, com o intuito de apresentar o manguezal a partir de conhecimentos científicos, geográficos e históricos sobre o ecossistema.
Mobilizando comunidades através do conhecimento
Logo após apresentar o projeto para a comunidade, os interessados podem se inscrever para participar dos ciclos formativos. Geralmente, as ações têm duração de três a cinco meses e contam com a contribuição de voluntários da própria região, além da equipe do Mangues da Amazônia.
Os selecionados são divididos em grupos de trabalho: Clube do Recreio (de 3 a 6 anos), Clube de Ciências (7 a 12 anos) e Promangue (de 13 a 19 anos). Assim, os monitores podem trabalhar diferentes níveis de conhecimento sobre o manguezal.
As turmas se encontram em espaços decididos junto com a comunidade. Às vezes em escolas, outras na sede de instituições locais. Inclusive, alguns encontros acontecem no próprio manguezal, por meio de expedições guiadas.
Do mesmo modo, os adultos são convidados a participar dos ciclos formativos. Com ajuda das lideranças comunitárias, a equipe desenha capacitações que atendam às necessidades da reserva. Dois exemplos são os cursos de Alimentação Inteligente e Direito Ambiental.
Educação ambiental: sementes de consciência
No caso das crianças pequenas, integrantes do Clube do Recreio, a proposta é desenvolver a consciência ambiental através de brincadeiras, jogos, contação de histórias e atividades lúdicas que trazem o manguezal como tema principal.
Por exemplo, a tradicional brincadeira do morto-vivo ganhou uma nova dinâmica. A regra é abaixar para imitar o caranguejo e levantar para representar a garça, ambas espécies-chave do manguezal.
“O Clube do Recreio busca reforçar a importância de conviver bem com a natureza, sobretudo nessa fase de construção de identidade”, explica Aila Freitas, especialista em Ciências Ambientais e coordenadora do grupo de trabalho.
Além disso, a equipe do Mangues da Amazônia mantém contato com as escolas, professores e famílias das crianças. Desse modo, podem alinhar melhor os conteúdos pedagógicos e trocar conhecimentos a partir das vivências trazidas para os encontros.
“Quanto mais os conhecimentos se aproximam da realidade, melhor se acomodam no repertório das crianças. Ao passo que elas se tornam multiplicadoras desta nova forma de se relacionar com o meio ambiente”, complementa Aila.
Letramento científico: um caminho para a educação ambiental
Sob o mesmo ponto de vista, o Clube de Ciências convida os integrantes para conhecer o manguezal através das lentes de um cientista. Logo, as atividades trabalham tanto a educação ambiental quanto o letramento científico.
“Esse espaço nasceu para despertar a curiosidade e o senso crítico nas crianças da comunidade. A partir dessa experiência, elas passam a se enxergar como agentes de transformação”, acrescenta a pesquisadora Ádria de Carvalho, que também é coordenadora do grupo.
Nesse sentido, os encontros são divididos em módulos que partem do brincar para desenvolver habilidades como observar a natureza, fazer pesquisa científica, formular hipóteses, coletar e analisar dados. Ou seja, cada encontro permite que as crianças sejam cientistas por um dia.
“Assim, podemos mostrar às crianças que a Ciência está aplicada em todas as situações cotidianas. Por isso, sempre procuramos sair da sala de aula e levá-los para laboratórios, museus, universidades e até mesmo visitar o próprio manguezal”, conta Ádria.
Ao final do percurso formativo, as crianças decidem qual projeto querem fazer para praticar o conhecimento adquirido. Em Tracuateua, a primeira turma do Clube de Ciências escolheu fazer uma série de conteúdos no TikTok, contando curiosidades sobre o manguezal.
Perspectivas de um futuro presente
Embora a educação ambiental na infância ajude a formar cidadãos mais conscientes no futuro, o Mangues da Amazônia também prioriza ações pensando no presente. É o caso do grupo Protetores do Mangue (Promangue), que abre espaço para a formação de jovens e adultos.
“Assim como nos demais clubes, nosso objetivo é incentivar o protagonismo jovem. Queremos sensibilizá-los quanto ao papel fundamental que têm na preservação do manguezal e no desenvolvimento econômico da região”, resume Lanna Corrêa, coordenadora do Promangue.
Após escrever uma redação sobre o impacto do manguezal em suas vidas, os jovens selecionados participam de oficinas, cursos e palestras que envolvem desde valorização da cultura local até autoconhecimento.
Conforme avançam na jornada formativa, encontram possibilidades para o mercado de trabalho. Um exemplo disso é o curso de informática, que é oferecido para jovens e adultos das três unidades de conservação para que eles possam aplicá-lo na realidade das reservas
“Ao longo do processo, os jovens aprendem a expressar ideias, resolver problemas e tomar decisões em prol da comunidade. Como resultado, estamos incentivando jovens lideranças”, finaliza a doutora em Biologia Ambiental.
Cursos para abordar o meio ambiente em sala de aula
Água: gotas de conscientização
O curso tem o objetivo de conscientizar sobre a água, sua importância para os seres vivos e formas de preservação. Propõe, ainda, práticas e inspirações alinhadas a competências e habilidades previstas pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Foi criado a partir da crise hídrica de 2014 e aproveita a temática contemporânea para tratar as formas de preservação da água.
Saiba mais e participe na plataforma Escolas Conectadas
Jornada nos biomas
A proposta do curso é vivenciar uma estratégia ativa de aprendizagem sobre biodiversidade, conservação e sustentabilidade dos biomas brasileiros com suporte de um jogo digital. Neste sentido, apresenta de maneira lúdica e interativa aspectos gerais, fauna, flora e ameaças à biodiversidade dos biomas Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal. Sua criação partiu da necessidade de valorizar os conhecimentos prévios dos estudantes, contribuir na construção de novas aprendizagens e sensibilizar para a preservação dos biomas.