Após um ano marcado por desafios em 2020, conversamos com alguns jovens sobre o impacto da pandemia em suas vidas e os planos para o futuro.
Um ano já se passou desde que o primeiro caso do coronavírus foi confirmado no Brasil e as consequências da crise sanitária afetaram diferentes setores da sociedade, como educação, trabalho, saúde, bem-estar e perspectivas para o futuro. Dentro as diversas parcelas da população que foram impactadas, estão os jovens, que também tiveram a vida transformada por conta da pandemia e anseiam por um futuro sem a Covid-19, impactando suas expectativas para 2021.
Jéssica Tibúrcio, mestre em psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, explica como os jovens dessa faixa etária são impactados pelo distanciamento social. “A limitação do espaço, não poder ir e vir, se manter distante dos amigos, festas e viagens, além da adaptação do ensino da escola e o medo sobre o futuro geram grande estresse. Sem dizer que cada um vive em uma realidade diferente e esses ambientes podem trazer impactos para a saúde física e emocional deles”.
Diante deste cenário de incertezas, conversamos com alguns jovens, entre 15 e 19 anos, de Canindé de São Francisco (Sergipe) e Salvador (Bahia) para entender a perspectiva para 2021 nas diferentes áreas de seus projetos de vida.
O estudo como caminho
Segundo a pesquisa Juventudes e a Pandemia do Coronavírus, estudar em casa foi um dos maiores desafios elencados pelos jovens durante a pandemia. Falta de equipamento tecnológico adequado, conciliar trabalho e estudo, além do desequilíbrio emocional foram alguns fatores que mais atrapalharam o ensino remoto.
Mesmo a distância, Line Alice França, 15 anos, do município Canindé de São Francisco, em Sergipe, conseguiu concluir a 1ª série do Ensino Médio em 2020. Mas a jovem acredita que poderia ter aprendido muito mais se estivesse em sala de aula.
“Eu tive que conseguir um computador para estudar, mas sinto que não consegui aproveitar bem todo o conteúdo. Até porque, minha saúde mental estava bem abalada no início da pandemia. Eu espero conseguir estudar mais esse ano e torço para que a pandemia acabe logo e eu possa voltar para a escola. É o que eu pretendo para 2021”, revela a estudante.
Pelo atraso em seu processo de aprendizagem, Line está insegura sobre o futuro. “Eu tenho receio de que venham outras pandemias e a gente fique isolado como agora. Viver assim ainda me traz muita tristeza” lamenta a jovem.
Moniele Almeida, 16 anos, também é de Canindé de São Francisco, Sergipe, e conseguiu estudar em casa no ano passado, mas teve que conciliar os estudos com a ajuda aos pais, no trabalho de produção de leite, para tentar aumentar a renda familiar que estava prejudicada. Apesar dos contratempos, a adolescente acredita que seus planos foram apenas adiados.
“Eu tive que jogar mais para frente meus estudos, mas não acho que a pandemia prejudicou meu futuro ainda. Quero fazer medicina veterinária e pretendo realizar meu sonho. Vou me preparar para isso”, ressalta Monique.
Já Fernanda Coelho, 16 anos, de Salvador, Bahia, não conseguiu estudar em 2020 e ainda não sabe se vai ter que refazer a série do ano passado.
“A pandemia me atrapalhou demais, porque me atrasou muito nesta questão escolar. Eu passei o ano sem aprender nada. Mas fiz atividades de um projeto social do qual participo. Para esse ano de 2021, quero concluir o 1º e o 2º ano do Ensino Médio, mas ainda não sei como será”, revela.
Expectativas para o mercado de trabalho
O lado profissional foi outra área da vida dos jovens afetada pela pandemia, já que muitos tiveram alteração na carga horária de trabalho ou perderam seus empregos.
Clara do Amor Divino, 19 anos, de Salvador, Bahia, por exemplo, trabalha como vendedora em uma loja de cosméticos. Ela ficou temporariamente sem emprego e depois teve o salário reduzido.
“A pandemia mudou meus planos, porque eu queria ingressar na faculdade no ano de 2020. Como tive diminuição do meu salário e fiquei um tempo em casa, não tive como entrar no curso de Direito. Mas agora vou retomar meu sonho e é o que eu pretendo para os próximos anos. Não vejo a hora de tudo isso acabar”, desabafa.
Em busca de outras maneiras de complementar a renda, em Salvador, Bahia, Maurício Mateus Mendes, 19 anos, conseguiu um trabalho temporário em edição de vídeo e designer gráfico, além da empresa em que trabalha na área de marketing digital.
“Eu quero continuar trabalhando em casa, porque tenho conseguido aumentar minha renda. Tenho aproveitado, por exemplo, para trabalhar com filtros do instagram e tem me gerado um bom dinheiro. Mesmo em um cenário tão ruim, a pandemia fez eu me adaptar para resolver os problemas, tenho aprendido a me virar no modo hard”, acredita.
Maurício já tem outros projetos de vida para quando tudo for reaberto. “Quero que a pandemia acabe logo, porque estou cheio de vontade de colocar algumas ideias em prática, como ajudar mais as pessoas da minha comunidade, de pequenos negócios, com o marketing digital”.
Saúde emocional para seguir
Ansiedade, tédio, impaciência e solidão estão entre os sentimentos que mais afetaram os jovens na pandemia. Além disso, muitos estão pessimistas com relação ao futuro. Samara Oliveira Santos, de 15 anos, se sentiu assim em Salvador, Bahia. “Ver o fim dessa pandemia estava ficando cada dia mais difícil. Eu me perguntava várias vezes ‘Será que eu ainda vou concluir aquele curso?’ ‘Será que eu ainda vou conseguir entrar na faculdade?’ Foi difícil ver uma saída”, conta. Apesar do medo no início, ela aproveitou os cursos on-line para se especializar.
“Eu fiquei frustrada, porque tinha o meu planejamento completo para 2021. Mas passado os primeiros meses, eu aproveitei para ler mais, fazer cursos e estou começando a ter esperança”, afirma Samara.
Esperança para o futuro
Apesar do cenário complexo, muitos jovens têm perspectivas positivas sobre a possibilidade de superar as crises. Luã dos Santos Silva, 19 anos, de Salvador, Bahia, está entusiasmado com o futuro. Ele aproveitou a crise da pandemia para ressignificar seus projetos e se organizar para a carreira que pretende seguir.
“No ano passado, eu consegui ter uma visão mais centrada dos meus objetivos para 2021. E um desses sonhos, eu já vou começar: consegui uma bolsa integral para o curso de gestão de recursos humanos. Quero me especializar para gerir a minha própria empresa. Eu acho que se não fosse a pandemia, eu não teria parado para reorganizar minha vida. Por isso, eu tenho esperança de que o futuro, com a vacina, será melhor”, diz.
Mesmo em um contexto delicado para lidar com as expectativas sobre o futuro, confira alguns conselhos da psicóloga Jéssica Tibúrcio para seguir em frente, sem deixar a ansiedade e o medo atrapalharem seus planos: