A crise sanitária provocada pelo novo coronavírus abriu um debate sobre os modelos educacionais para o pós-pandemia. Pensando nas oportunidades de inovação, Magdalena Brier, diretora geral do ProFuturo conversou com o professor da Universidade de Havard e diretor da Global Educational Innovation Initiative, Fernando M. Reimers.
Após meses de enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, especialistas afirmam que ela transformará inúmeros aspectos da vida e o sistema de educação global é um deles. De acordo com a Unesco, a pandemia impôs o distanciamento social a mais de 1,7 bilhão de estudantes em 191 países.
Longe de espaços físicos, como as escolas e as universidades, os alunos e professores reduziram as possibilidades de contaminação. Mas também tiveram que se adaptar ao ensino a distância. Essa mudança significou um rompimento do processo tradicional de aprendizagem e exigiu das lideranças pensarem em estratégias para garantir a qualidade do ensino.
A forma como esses líderes educacionais ao redor do mundo têm encontrado saídas para adequar o ensino ao “novo normal” e se reinventar, quebrando padrões antigos, foi tema do livro “Liderando mudança educacional durante uma pandemia”, do professor da Universidade de Havard e diretor da Global Educational Innovation Initiative, Fernando M. Reimers. Na publicação, Magdalena Brier, diretora geral do ProFuturo, também aborda os desafios e oportunidades da educação no contexto da Covid-19 através do exemplo do Programa.
O ProFuturo é um programa global de educação da Fundação Telefônica, em parceria com a Fundação “la Caixa”, voltado para reduzir a lacuna educacional no mundo, melhorando a qualidade de ensino e aprendizagem de milhões de crianças que vivem em ambientes vulneráveis na América Latina, Caribe, África e Ásia.
Em um bate-papo virtual com Magdalena Brier, intitulado “Oportunidade de inovação educacional na era pós-pandemia”, o professor contou como as instituições pesquisadas têm inovado, mesmo diante da crise, buscando novos caminhos para a educação, que servirão de modelo para o futuro. Confira, a seguir, os destaques dessa conversa.
Educação global na pandemia
No ano passado, a escola teve que migrar de forma abrupta para o universo digital. Foi então, em março de 2020, que Fernando começou uma pesquisa para encontrar um novo olhar para a educação na pandemia com o intuito de que não se tornasse a maior perda de oportunidade educativa dos últimos tempos.
Ele abriu o encontro falando sobre o que analisou nestes meses. “Eu me juntei a outras pessoas do campo para fazer investigações de diversos tipos. E mesmo com o horizonte escuro que nos cercava, a gente pensava: ‘é preciso construir esperança’. Temos que iluminar as coisas boas que estão acontecendo e essa foi a origem da iniciativa do livro. Era identificar boas práticas e colocar sob à luz”, relembra.
Após 12 meses, Fernando e outros pesquisadores documentaram 70 práticas. O que eles encontraram em comum entre 28 delas era um tipo de liderança especial para esse momento, que tinha um olhar mais positivo para os desafios, o que eles chamaram de liderança inovadora. Essas instituições encararam o desafio buscando soluções e não se deixaram abater pelo problema.
“Existe uma maneira especial de liderar nesse momento, que é traduzido em se passar coisas boas. E nós produzimos esse livro mostrando o que essas lideranças têm em comum. Essa é uma das intenções do livro: promover liderança na educação. A outra intenção é fazer com que todos nós reflitamos sobre o que necessita essa liderança? Que condições são necessárias para apoiar essa liderança nesse contexto?”, indaga.
Desafios para a liderança educacional
Durante o debate, os especialistas apontaram a importância de líderes e responsáveis “vestirem camisa da educação” nestes tempos de pandemia. Magdalena trouxe como destaques o que constrói uma boa liderança no ProFuturo: “Equipe, coesão, entusiasmo, serviço e, acima de tudo, estarmos todos convencidos do que queremos alcançar”, afirma.
A pandemia criou dificuldades que vão além da escola e refletem nela. Segundo o professor, não é só o impacto direto de não poder ir à escola. É preciso levar em consideração que os impactos sanitários e econômicos afetam a possibilidade de a família seguir apoiando a educação dos filhos, o que pede um olhar abrangente das lideranças em educação. “Isso requer, em primeiro lugar, uma liderança particular, uma liderança inclusiva, uma liderança que cria condições”, afirma.
Como essa é uma questão que tem afetado a educação no mundo inteiro, Fernando acredita que é o momento ideal para criar conhecimento junto a outros líderes e formar uma rede em que todos se ajudem. “É criar mecanismos para levar adiante essa demanda, criando uma rede de apoio, independentemente de ser secretário de educação, diretor de ONG… É preciso saber que não estão só. É criar redes que permitam trocar experiências. É permitir que líderes, através de extensa geografia, estejam em comunicação uns com os outros”, ressalta.
Educação digital para o fim da desigualdade educacional
No contexto da pandemia, a aprendizagem mediada pela tecnologia ganhou força e direção e fez as lideranças pensarem sobre como ela será no futuro. Mesmo com o desafio de acesso de qualidade para todos os alunos, a capacitação de educadores para o uso das ferramentas digitais de ensino e o uso da tecnologia na educação é um caminho sem volta e que, segundo Fernando, pode colaborar para o fim das desigualdades no ensino.
“Não há dúvida de que a educação digital nos permite desenvolver aspectos de competências fundamentais para um mundo moderno. Por outro lado, tem o potencial de igualar muitas diferenças e em permitir acessos, não só a conteúdos, mas a oportunidade de aprendizagem independentemente do contexto social em que uma pessoa está inserida”.
Otimismo e educação no futuro
O ano de 2020 marcou novas possibilidades de ensino e acelerou o uso deste dispositivos tecnológicos nas escolas. Durante o diálogo, Fernando Reimers observou a importância da educação digital para este pós-pandemia. “Pela primeira vez na história da humanidade, podemos imaginar uma parte do currículo global onde o acesso a conteúdos de qualidade fosse igual para todos. Eu entendo que a ideia é provocadora. Mas só podemos fazer isso com essas ferramentas digitais”, acredita.
O encontro entre Fernando M. Reimers e Magdalena Brier terminou com mensagens de esperança diante da atual situação educacional. Reimers destacou que, mesmo com tantos desafios, a pandemia tem concedido a possibilidade de se reinventar.
“A pandemia tem nos permitido desenvolver talentos, criar e fazer ações que trazem o sentido para a nossa vida. Nos permite se reinventar e assegurar uma educação de qualidade para os nossos alunos”, finaliza.
Sobre o livro
“Liderando a mudança educacional durante uma pandemia”, de Fernando M. Reimers, reúne 28 líderes de organizações educacionais inovadoras de todo o mundo onde colocam os desafios e as possibilidades da educação diante da incerteza da Covid-19.
Magdalena Brier é uma das entrevistadas e, expõe na obra, a necessidade de adequar o currículo educacional aos novos tempos para tornar a educação mais participativa, digital, criativa e humana.
A diretora do ProFuturo aborda o poder transformador da educação digital como um motor de mudança durante a pandemia. A experiência em questões tecnológicas e metodologias de ensino-aprendizagem digital do programa ProFuturo tem desempenhado um papel fundamental, adaptando-se ao contexto da Covid-19 e contribuindo para dar continuidade à educação.
Acompanhe o bate-papo, completo, acessando aqui: https://www.youtube.com/watch?v=_OJyDiSlNfY