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Ele tornou-se uma referência para a educação e o empreendedorismo social após criar um moinho de vento que ajudou a salvar sua vizinhança de uma das mais severas secas do Malawi

 

Inventor, engenheiro ambiental e empreendedor social. Aos 34 anos, William Kamkwamba responde a todos esses títulos, mas em 2001, quando construiu um moinho de vento que ajudou uma pequena comunidade rural a enfrentar uma das mais devastadoras secas do Malawi, ele era apenas um jovem de 14 anos lutando contra a fome e pelo direito à educação

Filho de fazendeiros, cresceu no interior do país africano junto das seis irmãs. Assim como as demais famílias residentes na vila de Wimbe, que fica a 32km da cidade mais próxima, os Kamkwamba tiravam o sustento da agricultura, sobretudo da plantação de milho. Mesmo arrecadando pouco, a educação das crianças era considerada uma prioridade para os pais de William.

Desde cedo, o jovem se mostrou curioso e inventivo, enxergando os estudos como uma oportunidade de transformar seu futuro e o de sua família. Mas os planos mudaram quando, diante de uma crise política e climática, as lavouras tornaram-se improdutivas devido à falta de chuvas por quase dois verões consecutivos. Sem condições de continuar pagando as mensalidades, William teve de abandonar a escola.

Foi a relutância em interromper o aprendizado, no entanto, que levou o jovem malawiano a encontrar uma solução para a comunidade. Com a ajuda de livros, materiais encontrados em um ferro velho, e a mobilização de amigos e vizinhos, William construiu uma turbina, movida a energia eólica, que não apenas bombeia água do solo para irrigação das plantações, como também gera eletricidade.

Anos depois, em 2021, Kamkwamba continua a trabalhar pela resolução de problemas complexos. Em entrevista à Folha de São Paulo, ele relembrou o papel da educação na sua trajetória e na dos jovens ao redor do globo. Para o inventor, aprender deve ser um convite a pensar fora da caixa. “A educação é mais poderosa quando é colocada a serviço de enfrentar as necessidades do mundo real”, concluiu.

A crise

No início dos anos 2000, países como Moçambique, Zâmbia, Zimbábue e Malawi enfrentaram uma severa crise climática, que deixou cerca de 70% da população em situação de insegurança alimentar. Segundo estimativas das Nações Unidas, no período entre dezembro de 2001 e março de 2002, cerca de mil pessoas morreram de fome nas zonas rurais do Malawi. A família Kamkwamba fazia apenas uma refeição por dia, à noite.

Usando a Energia

Diante da impossibilidade de continuar frequentando a escola, William Kamkwamba passou a frequentar a biblioteca comunitária todos os dias. Foi lá que encontrou o livro de física avançada Using Energy, onde descobriu que um moinho de vento podia bombear água e gerar eletricidade. A partir das leituras que fez em inglês, começou a reunir os materiais disponíveis para a construção de uma máquina adaptada.

O Moinho

No ferro-velho, William encontrou um ventilador, um amortecedor e canos de PVC. Juntando-os com um quadro de bicicleta e um velho dínamo, ele construiu uma máquina que produzia eletricidade suficiente para acender uma lâmpada. Depois, conseguiu quatro lâmpadas e dois rádios. Outra parte da invenção bombeava água para irrigação. Hoje, ao lado do primeiro, há outros moinhos de vento e William pretende expandir a construção deles no país todo.

Reconhecimento

Além de ter completado os estudos e se formado com honras, William Kamkwamba recebeu o prêmio de inovação GO Ingenuity Award e o de literatura Corine Literature Prize, ambos no ano de 2010. O livro autobiográfico O Menino que Descobriu o Vento foi selecionado para o programa “1 Livro 1 Comunidade” no condado de Loudoun, nos Estados Unidos. Em 2013, entrou para a lista de “30 pessoas com menos de 30 anos que estão transformando o mundo”, da revista TIME.

Tentativa transformadora

Não demorou até que a invenção de William ganhasse repercussão. Os moradores de Wimbe faziam fila em frente à casa dos Kamkwamba para carregar os celulares e buscar água bombeada pelo moinho de vento. Isso atraiu não apenas os jornalistas locais, mas também a imprensa internacional.

Depois de ter tido sua história contada em jornais como o inglês The Daily Times e o norte-americano The Wall Street Journal, o jovem foi convidado a participar da conferência TED Global 2007, na Tanzânia. Pela primeira vez fora do país natal, William, que na época tinha 19 anos, surpreendeu a plateia com a forma que descreveu a construção do moinho: “Eu tentei e fiz”.

VIDEO AQUI

A partir deste discurso, investidores presentes no evento prometeram ajudá-lo a completar os estudos e ampliar a construção de outras máquinas para irrigar toda a comunidade de Wimbe. Desde então, ele finalizou a educação secundária, recebeu uma bolsa de estudos para integrar a African Leadership Academy e formou-se em Engenharia Ambiental nos Estados Unidos.

Em 2009, dois anos depois da primeira apresentação, William Kamkwamba voltou ao TED para apresentar sua história novamente. Dessa vez, deixou um recado especial para os jovens que, como ele, conhecem de perto as adversidades: “Confie em você e acredite. Não importa o que acontecer, não desista”, encorajou.

Orientação e ferramentas

Ao longo dos últimos anos, William tem reunido informações e aprendido com o trabalho de organizações globais que atuam para reduzir a distância entre jovens e a educação. O objetivo é adaptar respostas e soluções para a realidade local do Malawi, onde pretende começar seu próprio projeto.

Atualmente, coordena ações na organização sem fins lucrativos WiderNet, que disponibiliza um currículo tecnológico e mão na massa, com conteúdos práticos para estimular a formação de jovens em comunidades sem acesso a recursos digitais e educacionais. A iniciativa já foi implementada em alguns países africanos, bem como na Índia e em Papua-Nova Guiné.

Sem esquecer do país natal, William já está mobilizando esforços para  o centro de inovação Moving Windmills — Movendo Moinhos de Vento, em português — onde pretende concentrar um polo tecnológico e unir criatividade, resolução de problemas e cultura maker para incentivar novas invenções transformadoras de realidades.

“Duas coisas que gostaria de ter tido quando construí meu primeiro moinho: orientação e ferramentas. Mesmo hoje no Malawi, se um jovem tem uma boa ideia, é fácil que seja tirado do caminho por pequenos obstáculos”, disse em entrevista para a Folha de São Paulo. “Quero reduzir o risco para que eles possam criar soluções simples para os desafios da agricultura”.

Quem é William Kamkwamba, o jovem que transformou sua comunidade aos 14 anos?
Quem é William Kamkwamba, o jovem que transformou sua comunidade aos 14 anos?