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Com a plataforma, os alunos têm a chance de aprender sobre variados assuntos: feminismo, robótica, arquitetura, etc. Basta pedir e esperar alguém disposto a ajudar!

Alunos e professor estão sentados em roda em atividade promovida pelo Quero na Escola

Oficina de quadrinhos e de robótica. Danças e brincadeiras africanas. Aula de bicicleta. Bate-papo sobre mercado de trabalho e profissões. Palestras que trazem os problemas da gravidez na adolescência e das DSTs. Imersão sobre feminismo e xenofobia. Com a plataforma Quero na Escola é assim: os alunos de escola pública escolhem o que querem aprender e a plataforma os conecta a um voluntário capacitado e disposto a atender aos pedidos.

A grade curricular da escola não pode atender todos os seus interesses, mas o mundo pode. A frase expressa na home do site já explica o objetivo da Quero na Escola, criado em 2015 pelo grupo de amigas jornalistas Cinthia Rodrigues, Tatiana Klix, Luísa Pécora e Luciana Alvarez, que hoje compõem a Associação Quero na Escola.

Com a lógica dos matches similar aos aplicativos de relacionamento, a iniciativa pegou. São mais de 15 mil atendimentos em 65 cidades de dez estados brasileiros.

“A escola tem essa cultura histórica do muro. O que a gente quer é contornar essa barreira, diminuir o muro não só físico como cultural entre escola e sociedade”, explica Cinthia Rodrigues. E, para demolir o muro, é preciso quebrar alguns paradigmas. Segundo a cofundadora, as pessoas muitas vezes não conhecem a escola pública e têm só a visão de extremos que a mídia retrata: os exemplos inovadores, ou os que deram muito errado. Há ainda quem carrega uma memória ruim da escola em que estudaram. “Tudo isso muda quando o voluntário entra naquela realidade”, continua.

Os voluntários são os mais variados possíveis. Na maioria das vezes, são pessoas da comunidade onde a escola está inserida ou ex-alunos das instituições participantes. Há também a participação de muitos coletivos, que palestram sobre temas diversos, de feminismo e racismo a hip hop, grafite e escrita criativa.

Alunos seguram smartphones em frente ao rosto e estão sentados nos degraus de um escada, ao lado de voluntários do Quero na Escola

 

Além dos pedidos de alunos e pessoas interessadas em realizá-los, a gestão escolar precisa estar aberta à experiência. Por isso, o Quero na Escola toma o cuidado de passar à direção uma minibiografia dos voluntários, que contempla o motivo pelo qual ele se inscreveu na plataforma, o que o qualifica a atender o pedido em questão e quais dias e horários está disponível para ajudar. A partir daí a escola se encarrega de viabilizar os encontros, normalmente encaixados em horas vagas ou no contraturno escolar.

Para incentivar os pedidos, a plataforma também envia às instituições de ensino alguns cartazes explicativos para serem colados nos corredores. Não raro, uma mesma escola recebe atendimentos diversos assim que atesta a eficácia da proposta, que deixa os alunos mais interessados e participativos.

Também acontece de os voluntários criarem relações com as instituições, como conta Cinthia: “uma voluntária que fez contação de histórias no ano passado continuou o contato com a escola e agora vai lançar um livro sobre a experiência. O bacana é que os alunos são coautores!”. Teve também o caso de um aluno que participou de uma palestra sobre enfermagem e acabou descobrindo que era essa a profissão que queria seguir. “Hoje ele faz faculdade e participa do Quero na Escola como voluntário”, diz.

Uma nova forma de aprender

A E.E Professor João Luiz de Godoy Moreira, em Guarulhos, é uma das primeiras e mais ativas a participar do Quero na Escola, graças à professora de língua portuguesa Rosemeire Caldas, que incentiva os pedidos dos alunos. “É uma iniciativa muito legal porque amplia o conhecimento dos nossos alunos e os ajuda a visualizar, na prática, alguns conteúdos que parecem abstratos quando estão só na sala de aula”, opina.

Geralmente, os professores sedem espaço de suas aulas para que as palestras aconteçam. Muitas vezes o assunto tratado pelo voluntário vira pauta para trabalhos realizados posteriormente pelos docentes. “Os alunos do 9º ano pediram uma aula sobre xenofobia e racismo. Veio uma historiadora que ficou com eles durante três aulas. Depois, a professora aproveitou para profundar o conteúdo em sala de aula”, relembra Rosemeire.

 

Alunos estão sentados em carteiras olhando para palestrante, em atividade promovida pelo Quero na Escola

 

Outro pedido que surpreendeu foi uma aula sobre depressão e suicídio, que surgiu com um trabalho de conscientização sobre o setembro amarelo (mês de prevenção do suicídio). “Os alunos receberam uma voluntária que já tinha feito tratamento para depressão. Foi muito importante, porque nós sabemos que muitos deles estão vivendo uma situação parecida, mas às vezes temos dificuldade para acessá-los. Com a voluntária, eles perceberam que não estão sozinhos”, conta Rosemeire.

Ponto para a democracia!

Neste exercício de estimular a escuta dos estudantes, promover a inclusão de novos temas e conteúdos na escola pública e convocar a sociedade a participar mais ativamente da educação brasileira, a plataforma estimula o exercício democrático.

“A democracia na escola é coisa recente. Nossa LDB (Lei das Diretrizes e Bases da Educação) é de 1996. Algumas disciplinas importantes, como filosofia e sociologia só chegaram aos currículos do Ensino Médio em 2008. Instâncias participativas e conselhos de pais também são mais recentes”, explica Cinthia Rodrigues. “O Quero na Escola tenta ser esse atalho que envolve a participação popular para ajudar a melhorar a educação do nosso país. Em vez de reclamar que falta isso, falta aquilo, que tal a gente ajudar?”. Fica o convite da jornalista.

 

Quero na Escola conecta estudantes e voluntários para compartilhar conhecimento
Quero na Escola conecta estudantes e voluntários para compartilhar conhecimento