Resultados de 2021 do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) revelam que o aprendizado de matemática no 5º ano do ensino fundamental regrediu ao estágio de 2013.
Em 2021, estudantes brasileiros de ensino fundamental e médio avaliados pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) tiveram um desempenho em português e matemática inferior ao de 2019. Os dados, apresentados pelo Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) na última sexta-feira (16), comprovam a expectativa de gestores e educadores. O levantamento foi realizado em um período de experiências de aulas remotas e fechamento das escolas, por conta da pandemia de Covid-19. Esse cenário prejudicou muito o aprendizado, pois aumentou ainda mais a desigualdade de acesso à educação e a evasão escolar dos grupos mais vulneráveis da sociedade.
Notas de matemática apontam para regressão profunda do aprendizado
O Saeb 2021 contou com uma prova de português e matemática feita a cada dois anos por alunos do 2º, 5º e 9º anos do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio. Considerando as redes pública e privada, a queda das notas de matemática evidenciam o grande desafio que será a recuperação da aprendizagem no período pós-pandemia: no 5º ano do ensino fundamental, por exemplo, a nota passou de 227,88 (2019) para 216,85 (2021). Este resultado aponta uma regressão aos níveis de 2013 e revela que 38,9% dos alunos chegaram a essa etapa sem conseguir identificar figuras geométricas. Ou seja, não são capazes de reconhecer um triângulo ou um quadrado. Esse número era de 30% em 2019.
Queda menor, porém, igualmente significativa, também aconteceu no 9º ano do ensino fundamental: de 265,16 pontos (2019) para 258,64 (2021). O mesmo cenário se apresenta no 3º ano do ensino médio: 278,53 (2019) e 271 (2021).
Henrique Marins de Carvalho, professor de matemática no Campus São Paulo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), explica que esse retrocesso impacta significativamente na vida escolar e profissional dos estudantes. Segundo ele, “ser capaz de usar a matemática como ferramenta e como linguagem permite interpretar o mundo, atuar nele e transformá-lo. Sendo assim, não há uma área sequer das atividades humanas em que não se possa identificar – explícita ou implicitamente – conceitos matemáticos. E isso não fica restrito apenas aos componentes curriculares do ambiente acadêmico, valendo também para as expressões artísticas ou qualquer aspecto da vida cotidiana. Por exemplo, para decidir a respeito da disposição dos móveis em um cômodo da residência, as noções de área, ângulo, perímetro etc. são elementos que permitem elaborar soluções interessantes. Interpretar um gráfico estatístico publicado em alguma mídia exige certamente criticidade, mas, em primeiro lugar, exige a compreensão das convenções e técnicas de cálculo adotadas”, exemplifica Henrique.
Distorção no Ideb
O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) resulta do cruzamento das notas do Saeb com a porcentagem de alunos que não repetiram de ano (taxa de aprovação/fluxo escolar). Esse indicador oscilou muito discretamente em dois anos. O Ideb dos anos iniciais do ensino fundamental foi de 5,9 (2019) para 5,8 (2021). Nos anos finais do ensino fundamental saiu de 4,9 (2019) para 5,1 (2021). No ensino médio, o índice se manteve em 4,2.
No entanto, segundo nota técnica divulgada pelo Todos pela Educação, esses dados precisam ser analisados com cautela. O documento explica que “as avaliações do Saeb de 2021 foram aplicadas em um período de pandemia em que muitas escolas públicas do país ainda não estavam realizando atividades 100% presenciais, ou tinham acabado de promover este retorno, reduzindo o número de alunos matriculados que, de fato, fizeram a prova”. No ensino médio, por exemplo, o documento aponta que a taxa de participação foi de 75,6% (2019) para 61,4% (2021).
Além disso, a nota também ressalta que “é razoável supor que a queda na participação dos alunos nas avaliações se deu majoritariamente entre aqueles de menor nível socioeconômico, que estavam acompanhando menos as atividades escolares ou já haviam abandonado os estudos”. Ou seja, se estes estudantes tivessem feito a prova, muito provavelmente as notas seriam ainda menores.
Aprovação automática por causa da pandemia
O documento também alerta que “seguindo diretrizes do Conselho Nacional de Educação (CNE), algumas redes implementaram uma política de aprovação de todos os seus estudantes, enquanto outras não trilharam esse caminho. Aquelas que aprovaram automaticamente os alunos viram um salto no seu indicador de fluxo escolar”. Desta forma, os dois eixos que compõe o Ideb sofreram distorções, tornando os dados de 2021 não comparáveis com os anteriores. Ainda assim, segundo a nota do Todos pela Educação: “esses dados devem ser utilizados pelas redes de ensino e escolas no intuito de terem mais informações para guiar suas ações de recomposição de aprendizagem”.