Equipes técnicas de secretarias estaduais de educação se reuniram com autoridades e apoiadores técnicos para debater formas de implementar a reforma do Ensino Médio
No início de março, o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) realizou o primeiro evento de 2020 da Frente Currículo e Novo Ensino Médio. Equipes técnicas das secretarias de educação de todos os Estados brasileiros vieram a São Paulo para uma série de reuniões e oficinas com o objetivo de debater a construção curricular e traçar maneiras de reorganizar o Ensino Médio.
A programação incluiu discussões sobre implementação da Base Nacional Comum Curricular, como construir itinerários formativos, debates sobre mudanças em avaliações nacionais e a apresentação de modelos de arquitetura para a distribuição da nova carga horária. Um dos principais objetivos era apontar caminhos para cumprir as normas que norteiam essa reestruturação.
De modo geral, o Novo Ensino Médio, que deve começar a ser adotado, gradualmente, já em 2020, está baseado em três principais ações: a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o aprofundamento do conhecimento por meio dos itinerários formativos e o aumento da carga horária mínima dos estudantes.
A BNCC define o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os estudantes devem desenvolver na Educação Básica e, para o novo Ensino Médio, propõe a divisão em quatro áreas do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Dentro dessa divisão, serão oferecidos caminhos para aprofundamento do conhecimento, que são os chamados itinerários formativos, compostos por trilhas de conhecimento e matérias eletivas.
Além disso, a carga horária total, do 1º ao 3º ano do Ensino Médio, aumenta de 2.400 horas para 3.000 horas. Dessas, 1.800 horas serão dedicadas aos conhecimentos relacionados à BNCC e 1.400 horas, às atividades de aprofundamento dentro dos itinerários formativos. O foco deverá estar na construção de projetos de vida e no protagonismo dos estudantes.
Na visão do secretário de educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares da Silva, apoiar a construção de planos de implementação, trazer o olhar para inovação e para equidade são pontos importantes, mas sempre observando que eles devem fazer a construção a partir das suas visões locais.
“O novo Ensino Médio, a legislação e suas diretrizes trouxeram para os Estados uma responsabilidade de direcionar, de colocar os seus desejos na organização do Ensino Médio, então dar suporte para que os técnicos – junto com seus secretários, suas equipes e suas redes, façam as melhores opções considerando as suas características é fundamental”, afirmou Rossieli Soares da Silva, secretário de educação do Estado de São Paulo.
O dirigente também é um dos coordenadores da Frente Currículo e Novo Ensino Médio e contou com a presença de outras autoridades para os momentos de orientação e trocas, como Alexandre Ribeiro Pereira Lopes, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep) e Eduardo Deschamps, conselheiro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE).
Participaram ainda parceiros institucionais como Fundação Telefônica Vivo, Instituto Reúna, Instituto Unibanco, Itaú BBA, Oi Futuro, Instituto Natura, Movimento pela Base, Inspirare e Instituto Sonho Grande.
Oficinas, discussões e inspirações
Para além das formações que visam contribuir com as secretarias de educação para assegurar que as 27 Unidades da Federação elaborem currículos coerentes para as escolas públicas de Ensino Médio em todo do país, o encontro promovido pela Frente Currículo e Novo Ensino Médio teve momentos de inspiração para as equipes técnicas.
Na oficina Quais inovações eu posso fazer na implementação do Ensino Médio, oferecida com apoio da Fundação Telefônica Vivo, o educador Beto Silva, do Centro de Estudos e Programas em Desenvolvimento Sustentável (CIEDS), e Bruna Waitman, gestora de educação integral na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, mesclaram temas como futurologia e a expectativa de estudantes da rede paulista de ensino em relação a seus futuros.
Para Tiago Ungericht Rocha, que trabalha na coordenação do departamento de desenvolvimento curricular do Ensino Médio na Secretaria da Educação e do Esporte do Paraná, foi interessante o desafio de pensar o papel da escola até 2028, quando os primeiros estudantes estarão terminando o novo modelo de Ensino Médio.
“Precisamos romper com a escola do século XIX. É importante pensar na flexibilidade que a reforma traz, porque o projeto de vida do estudante só será pauta na escola se houver de fato incentivo ao protagonismo dele”, opinou.
Para Iara Pires Vianna, assessora da Subsecretaria de Desenvolvimento da Educação Básica do de Minas Gerais e coordenadora da etapa do Ensino Médio, elogiou o evento como espaço para trocas importantes de perspectivas e ressaltou que é preciso pensar em temas como equidade de oportunidades.
“Fizemos em Minas Gerais a coleta de 600 mil questionários respondidos por jovens e para uma parcela deles, principalmente por temas relacionados a seus territórios, não há possibilidade de futuro. Até que ponto os professores já estão preparados em pensar projeto de vida e dar conta de reconstruir esse futuro junto dos meninos e meninas? A oficina foi um começo para pensar em como construir esse futuro junto com eles”, relatou.
“Toda a programação foi pensada para que as etapas que estamos vivenciando estejam conectadas e façam sentido, para que voltemos aos nossos Estados com subsídios para continuar fazendo a implementação desse redesenho do Ensino Médio”, resumiu Maria Medeiros, secretária executiva de Educação Integral e Profissional de Pernambuco.
Maria Medeiros complementa que para ela os multiplicadores da oficina superaram as expectativas por saírem do lugar comum. “Precisamos ver a escola como esse espaço privilegiado de inovar para ajudar as crianças e jovens a construírem o seu projeto de vida”.
Novo modelo de aprendizagem
“Este espaço é de aprendizagem, de colaboração e desafio para pessoas que querem aprender tecnologia. O importante é a metodologia que está por trás, que pode servir de inspiração neste momento tão importante de aplicação do novo Ensino Médio”. Foi assim que Rubem Saldanha, gerente de Programas Sociais da Fundação Telefônica Vivo, deu as boas vindas a cerca de 35 técnicos das secretarias de educação que aceitaram o convite de conhecer as instalações da 42 São Paulo.
Karen Kanaan, sócia do Instituto 42, explicou que o espaço foi criado a partir da provocação de como poderia ser a educação no futuro. Ali se aprende a programar fora de um padrão de ensino: os alunos, chamados cadetes, têm acesso aos laboratórios 24 horas por dia, eles mesmo montam suas grades e determinam o ritmo de estudo. Tudo é feito de forma colaborativa com outros estudantes e a equipe de apoio, aprendizagem entre pares, em que todos são alunos e professores.
“Tem o modelo tradicional e tem o nosso modelo. A intenção é dar luz a quem não confiava que podia programar. Quem se torna cadete dizemos que precisa aprender a aprender e vai desaprender conceitos do tipo: ‘o certo é estudar sozinho’, ‘quem é bom em humanas, não é bom em exatas’. Primeiro, joga fora os preconceitos. Depois vai aprender a montar a própria rotina, vai no ritmo dele, construindo conhecimento”, detalhou aos convidados.
Sirley Damian de Medeiros, coordenadora do Ensino Médio de Santa Catarina acredita que esse novo modelo “se relaciona com a questão dos itinerários formativos do no Ensino Médio, e à possibilidade de escolha dos alunos dentro de novos formatos”.
Zaida Petry, diretora de ensino da Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina, concorda que a visita é um estímulo para as mudanças que as redes de ensino precisam fazer. “Nossa educação tradicional está se esgotando. Aqui tem essa questão do socioemocional, de conhecer e aprender sobre os próprios limites, sem que ninguém precise mandar”, afirmou.
“Está dentro dos padrões do novo Ensino Médio, que tem o foco principal no protagonismo dos estudantes. Para nós é uma inspiração. A surpresa está exatamente nessa direção, coordenação e quantidade de horas que não são rígidas, e nessa abertura para o que é totalmente diferente”, conclui Mário Rosa, chefe da Divisão de Ensino Médio da Secretaria Estadual de Educação de Roraima.