Fundada em 2017, empresa aproxima candidatos LGBTQIA+ e potenciais empregadores, e desenvolve materiais educativos com foco em diversidade e inclusão.
Em maio de 2013 o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou uma resolução que garantiu aos casais homoafetivos o direito de se casarem no civil. “A partir daí, as marcas começaram a sair do armário e fazer muita publicidade para o público LGBTQIA+”, relembra a publicitária mineira, Maira Reis. Atuando com posicionamento de marca e conteúdo on-line, ela viu muitas empresas se comunicando de forma equivocada sobre o assunto, e começou a compartilhar suas impressões sobre representatividade em textos no LinkedIn.
A repercussão das postagens foi tanta que ela começou a receber muitos currículos de pessoas LGBTQIA+. Em 2017, ainda na dúvida sobre o que fazer com estes CVs, decidiu aproximar empresas dos candidatos que a procuravam. Foi assim, que no final daquele ano, fundou a camaleao.co. A startup tem como princípio conectar a comunidade LGTQIA+ às organizações, mas também oferece consultoria e treinamentos às empresas, para que estas possam construir um ambiente com mais diversidade e inclusão.
Por meio do braço educativo de sua empresa, Maira já fez palestras em diversas organizações, como Ambev, Airbnb, Eletrolux, e cursos para o Instituto Natura, Chubb Seguros e Merck.
“Quando eu criei a camaleão, não tinha a visão empresarial que eu tenho hoje. Queria apenas compartilhar os currículos que recebia”, conta ela. “Não pensava em criar uma empresa para vender palestra, criar uma plataforma, nada disso. Era só uma demanda que existia e que eu via que poderia suprir”.
A primeira pessoa contratada com auxílio da camaleao.co foi uma mulher transgênero, empregada em uma empresa do ramo hoteleiro. “Ela permaneceu lá três anos, mas saiu há um mês, por conta da pandemia. A gente conversa quase todos os dias pelo WhatsApp, e agora estamos de olho em outras oportunidades para ela “, explica a fundadora.
Em dois anos de atuação, o banco de dados da camaleao.co já acumula mais de 3 mil currículos. Em 2019, sua fundadora foi apontada como uma LinkedIn Top Voices, ou seja, uma das principais influenciadoras da rede.
Contratação e inclusão
Para Maira, o momento da contratação serve como porta de entrada para um caminho de inclusão. “Mas não adianta nada ser contratada se não houver mudança na cultura interna”, explica. “Por que eu vou continuar sofrendo ali, se no concorrente eu posso ser mais respeitada? É o básico. A gente está na empresa para dar o nosso melhor, não para ficar sofrendo”, conclui.
A publicitária percebe que as empresas brasileiras têm se esforçado bastante para criar um ambiente inclusivo. “Mas muitas delas mal sabem o que é uma pessoa trans”, lamenta. “Lógico que existe uma curva de aprendizado, mas quando as empresas querem fazer algo, elas fazem com rapidez e não ficam arranjando desculpa”, provoca.
Segundo a publicitária, para criar um ambiente inclusivo as organizações precisam compreender qual seria a sua estratégia de diversidade. “Se as empresas fazem palestras no dia da visibilidade trans, trata-se de uma iniciativa pontual. Apenas isso não basta, a ação precisa estar conectada com a estratégia da empresa: para onde a corporação está indo, o que ela deseja e como a diversidade se encaixa na agenda dela”. Ou seja: uma contratação isolada ou iniciativas pontuais não vão mudar a cultura de uma empresa. Os programas de diversidade precisam estar alinhados à estratégia macro da organização.
Vivo Diversidade
Com o compromisso de ser capaz de atender a toda a população brasileira, a Vivo entende que é necessário refletir a diversidade em suas equipes. A fim de atingir esse propósito, o Programa Vivo Diversidade foi criado para assegurar uma cultura mais inclusiva e um ambiente mais diverso e representativo, por meio dos pilares de Gênero, LGBTI+, Raça e Pessoas com Deficiência.
A empresa possui um grupo de afinidade voltado para os colaboradores LGBTQIA+, com a realização de reuniões regulares e condução de projetos que auxiliem a incluir pautas específicas dentro da companhia. Em 2019, a atuação para ampliar a inclusão de pessoas trans, resultou em nove contratações até o final daquele ano.
Revendo pré-requisitos
Maira acredita que é necessário rever alguns pré-requisitos para as contratações. “Não significa baixar a régua, mas sim que as empresas precisam ter um planejamento de carreira para desenvolver este profissional”, sugere.
A publicitária consegue tirar algumas conclusões a partir do banco de três mil currículos da camaleoa.co. No entanto, está sempre buscando compreender quais os maiores desafios das pessoas que buscam o suporte da startup e conta que recebe dúvidas em sua caixa de mensagens do LinkedIn diariamente.
Para sanar algumas dessas demandas, a empresa está criando materiais educativos, que serão disponibilizados para os candidatos LGTQIA+. Neles, Maira pretende abordar questões como: o que configura ou não uma LGTfobia, o que é preciso levar em consideração para denunciar este crime e como se comportar em um processo seletivo. “Eu quero fazer cada vez mais um trabalho com a comunidade, para deixá-la mais consciente dos seus direitos nos processos seletivos”, finaliza.