Presente em mais de duas mil escolas do Brasil, empresa combina tecnologia e brincadeira para ajudar o estudante a ter afinidade com a disciplina e desenvolver habilidades do século XXI
Equipados com óculos de realidade virtual feito de fibra de buriti, palmeira tradicional da região amazônica, os estudantes entram em uma sala de aula munidos de uma varinha mágica. Quando apontada para figuras geométricas, ela percorre o mapa mundi e os transporta, num passe de mágica, para uma praça em Paris, na França.
Um giro em 360 graus pelo local logo revela a imponente Torre Eiffel e sua forma, que se aproxima a de uma pirâmide. A varinha mágica entra em ação novamente e os estudantes acompanham uma explicação conceitual. Saem da experiência com a missão de reconhecer, em casa e em outros ambientes reais, a figura geométrica que conheceram em Paris.
É assim que o aplicativo Geometricando usa a tecnologia da realidade virtual para aproximar conceitos abstratos próprios da Matemática da realidade dos estudantes, que aprendem com elementos lúdicos. Essa solução é uma entre as desenvolvidas pela startup de educação Inteceleri, de Belém do Pará.
Com presença em cinco Estados, em mais de 2 mil escolas e alcance de 350 mil alunos, sendo 90% da rede pública, a empresa cria produtos educacionais que combinam gamificação, realidade virtual e jogos offline. O público-alvo são estudantes do Ensino Fundamental.
O carro-chefe é o Matematicando, que combina aplicativo de realidade virtual e peças físicas, funcionando como um jogo de memória para ensinar as operações básicas (adição, subtração, divisão e multiplicação) da matemática. Utiliza cores e atividades neurolinguísticas que desafiam e estimulam o desenvolvimento dos estudantes.
As escolas que compram as soluções de realidade virtual recebem também treinamento para professores e gestores aplicarem às disciplinas, inclusive a matemática. “Desenhamos um projeto que começa com a formação continuada do professor, que vai aprender a usar as ferramentas tecnológicas a seu favor”, afirma Walter dos Santos Oliveira Júnior, fundador e sócio-diretor da startup de educação.
Segundo o empreendedor, desde que as escolas suspenderam as aulas presenciais, seguindo as medidas de isolamento social recomendadas pela Organização Mundial da Saúde diante da pandemia do coronavírus, a startup passou a atender dez novas instituições de ensino, totalizando 55 mil novos estudantes. “Nós criamos um plano estratégico emergencial para dar conta da implantação em poucas semanas. A gente sabe que o momento é de unir esforços”.
Ensino da Matemática renovado
A Matemática não costuma ser das áreas de conhecimento mais queridas pelos estudantes. Segundo Walter Oliveira Júnior, isso tem muito a ver com a forma como a disciplina é aprendida e ensinada.
“O ensino da Matemática é algo passado de gerações para gerações de forma muito clássica, mas as habilidades e competências necessárias para o século XXI exige de nós um novo olhar para isso, com estratégias voltadas para o desenvolvimento de cálculo mental, raciocínio lógico e pensamento computacional”, afirma o empreendedor, que é professor e doutorando em computação aplicada pela Universidade Federal do Pará – UFPA.
Historicamente, o ensino da disciplina envolveu métodos questionáveis. “Quem ia bem numa prova era considerado muito inteligente, então a Matemática foi se configurando como um conhecimento para poucos”, explica.
O professor também enfatiza que a própria formação em pedagogia é deficitária, com poucas horas dedicadas à matéria. “Por isso, ajudamos os professores e alunos com novas metodologias e abordagens para aproximar o conteúdo do dia a dia de forma interativa e divertida”, avalia Walter.
Melhoria de índices na prática
“Os índices na Educação Básica são muito críticos. Apenas 15% dos alunos saem do Fundamental com aprendizado adequado em Matemática. Em São Paulo, esse índice é de 10% e, no Pará, onde estamos, é de apenas 5%”. Foi com o objetivo de mudar essa realidade que se uniu a um grupo de amigos para criar a Inteceleri, em 2014.
A metodologia criada chamou a atenção do Google, que certificou a startup como formadora oficial de professores na implantação da plataforma Google for Education na região Norte do país, em 2015.
Desde então as soluções trouxeram conquistas significativas. “O resultado é um aumento médio de 12% na nota escolar e 22% no Índice de Educação Básica (IDEB) das escolas onde o Matematicando foi implantado”, garante o sócio-diretor Walter.
Os números foram comprovados cientificamente pelos pesquisadores da startup, comparando os índices de aprendizado entre as escolas que usam e as que não usam os produtos da empresa e do Google for Education. O artigo com o estudo detalhado foi apresentado durante o 5º Simpósio Internacional de Pesquisa em Educação Matemática, ocorrido em junho de 2018.