Empatia, percepção da realidade e aprendizados diversos são apenas alguns dos benefícios que adolescentes podem ter com o trabalho voluntário
“Saio com a sensação de que aprendi muito mais do que ensinei e que sou mais ajudada do que ajudei”. É assim que Laura, estudante de 16 anos, afirma se sentir depois de fazer trabalho voluntário. Tudo começou quando, aos 10 anos, a escola em que estudava visitou uma creche para promover doações. Ela gostou e se inscreveu em um projeto para ir semanalmente ao local realizar atividades como leitura, teatro e desenho com as crianças de 1 a 4 anos. Desde então, não parou mais.
No Brasil, 4,4% da população faz algum tipo de trabalho voluntário, segundo levantamento mais recente do IBGE, o equivalente a 7,4 milhões de pessoas. Entre o grupo de 14 e 24 anos, o percentual é de 2,9%.
Laura afirma que fazer trabalho voluntário é importante porque oferece uma nova perspectiva sobre o mundo. “Você começa a enxergar as coisas de outra forma, percebe que tem gente precisando de ajuda em todo lugar e tem gente que pode ajudar em todo lugar também”, diz. “Acho que isso pode mudar a vida de alguém, não apenas de quem você ajuda, mas também a sua. E você começa a enxergar a sua vida e a dos outros de outro jeito”.A jovem já participou de projetos com a família em datas como Natal e Páscoa, integrou o Criadores de Atos, em parceria com a plataforma Atados, entre outros trabalhos voluntários. O mais recente envolve o projeto Vem Brincar Também, da ONG Ritmos do Coração, no qual são feitos brinquedos para crianças com deficiência física ou cognitiva.
Menos individualidade, mais colaboração
Enxergar a vida de outro jeito é apenas um dos benefícios que o voluntariado pode trazer para os adolescentes, de acordo com Júlia Fink, mestre em análise do comportamento da PUC-SP. Mas é fundamental, antes de começar a atividade, respeitar a disponibilidade do jovem, escolher uma atividade que seja compatível com o seu interesse e repertório e colocá-lo sob supervisão para que possa resolver qualquer dúvida que apareça. “Também é preciso cuidado para que o trabalho voluntário não apareça para o adolescente como um castigo, pois isso tende a acabar com o sentido da atividade”, alerta.
Para a especialista, a adolescência é “reconhecidamente uma fase na qual os jovens passam a estar mais expostos e suscetíveis às interações sociais extrafamiliares, encaram novas exigências e responsabilidades, passam por um período de preocupação excessiva com o sucesso ou fracasso (seja social, romântico, sexual), gerando um cenário competitivo e o medo da rejeição pelo grupo do qual fazem parte”.
Ser voluntário proporciona ao jovem ser exposto a uma realidade que estimula a colaboração. “O voluntariado traz a necessidade nesse jovem de enxergar para além de si e do grupo ao qual pertence ou que tenta pertencer”, completa Júlia Fink.
Isso pode gerar inúmeros benefícios: desenvolvimento de habilidades empáticas, contato com outros parâmetros de expectativas e valores, compreensão das necessidades dos outros (ainda que sejam distante das próprias), participação de um contexto no qual se valorizam qualidades e habilidades diferentes do seu grupo e a construção de um senso de responsabilidade social.
Já em relação ao voluntariado, “é uma excelente maneira de colocar o jovem em contato com a realidade para além do discurso teórico e confrontar ou endossar suas percepções do mundo. Assim, adolescentes e adultos com história de voluntariado podem refinar suas habilidades empáticas, o que influencia inclusive as relações interpessoais”, finaliza.