Mudar a vida profissional em um mundo altamente conectado e imprevisível pode ser ainda mais desafiador; conheça Bruno e Raul, participantes da 42 São Paulo que se aventuraram no mundo da tecnologia!
Fazer uma transição de carreira não é algo fácil. Para alguns, o processo além de demandar tempo e planejamento, também significa lidar com sentimentos como medo, ansiedade e angústia. Para outros, a mudança é tratada com mais leveza, e a busca por um novo caminho profissional se mostra desafiadora e positiva. Independentemente de como se encara, a mudança na área de atuação não acontece da noite para o dia e não está livre de dilemas.
As novas configurações do mercado de trabalho do século XXI permitiram que muitas pessoas, antes estagnadas em um cargo, escolhessem mudar. A economia já é outra e as relações de trabalho também se transformaram.
A pesquisa Re:Trabalho – realizada pela Tera e a Scoop&Co, com apoio de Época Negócios, ouviu 438 participantes de todas as regiões do país, em especial do Sudeste (77%), de diferentes idades e profissões. Entre os participantes, 63% já mudaram de carreira – sendo que 70% mais de duas vezes. Entre os que ainda não fizeram a transição, 48% pretendem mudar nos próximos 12 meses, e 70% querem uma carreira mais alinhada a seus interesses e propósitos de vida.
Os novos profissionais querem combinar a flexibilidade de ser freelancers com a segurança de ser CLT. No estudo, 61% consideram ideal a combinação de trabalho fixo com jornada autônoma. A grande razão para isto é a flexibilidade de horário que este novo modelo proporciona: 90% dos participantes querem determinar as horas trabalhadas.
O mercado de trabalho que já seguia na esteira do mundo VUCA (acelerado, repleto de conexões e muito imprevisível), com maiores avanços tecnológicos, passou a conhecer o modelo BANI (acrônimo, em inglês, de frágil, ansioso, não-linear e incompreensível). O primeiro a usar o termo foi o antropólogo e historiador Jamais Cascio, da University of California (EUA), membro do Institute for the Future, no artigo “Facing the Age of Chaos“.
“Um paralelo intencional com o VUCA, o BANI é uma estrutura para articular as situações cada vez mais comuns em que a simples volatilidade ou complexidade são lentes insuficientes para entender o que está acontecendo. Situações em que as condições não são simplesmente instáveis, elas são caóticas”, afirma Jamais Cascio em trecho do artigo.
E, em um contexto em que as competências, as dificuldades e conjunturas mudam rapidamente, também é fundamental ter agilidade e senso de oportunidade para se adaptar. Contamos abaixo as histórias de Bruno Vidigal e do Raul Kelmani, cadetes (como são chamados os estudantes da 42 São Paulo), que decidiram se aventurar em uma mudança de carreira para o mundo da tecnologia:
“O que me levou para a programação foi a cozinha”
Bruno Vidigal, de 29 anos, é formado em Gastronomia e natural de São Paulo (SP). Trabalhou 10 anos em restaurantes e cafés, mas quando soube que ia ter uma filha – a pequena Nina, hoje com 3 anos – decidiu, em conjunto com a companheira, que iria passar mais tempo em casa.
“Cozinha é uma rotina muito difícil e exaustiva. Eu trabalhava cerca de seis ou sete dias por semana, quase 10 horas por dia, e não necessariamente ganhava muito bem”, conta.
Voltada a qualquer pessoa com mais de 18 anos, sem custos e baseada no trabalho colaborativo, a 42 São Paulo tem o objetivo de formar pessoas em um mundo cada vez mais permeado pela cultura digital, no qual conceitos como machine learning e inteligência artificial chegaram para ficar e já transformam nossas vidas.
Em parceria com a Fundação Telefônica Vivo, pioneira no investimento dessa experiência no Brasil, a primeira unidade da 42 na América Latina foi inaugurada em 2019. Hoje, o modelo está espalhado nos quatro continentes em mais de 20 países no mundo.
Ele passou a pesquisar formas de trabalhar em casa, e esbarrou na programação como um possível caminho profissional. “Sempre gostei muito de mexer em computadores, mas eu acho que o que me levou, de verdade, para a programação foi a cozinha”, afirma.
Quando trabalhava como chef de cozinha, era responsável por gerenciar toda a operação do restaurante, e sentia muita falta de algo que organizasse melhor os processos.
“Nesta época, meu trabalho era quase exclusivamente administrativo. Ficava uma hora na cozinha, e o resto eu ficava no escritório vendo compras e pedidos. Sentia muita falta de um bom software para gerenciar tudo isso”.
A partir deste incômodo, Vidigal começou a fazer alguns cursos de desenvolvimento web. Ele chegou a desenvolver alguns pequenos projetos como um site para divulgar os trabalhos de uma amiga. Foi aí que conheceu a 42 São Paulo.
“Mesmo amando Biologia, vi que esse caminho já não trazia mais frutos. E fui buscar outras opções para mim”
Raul Kelmani, paulista de 36 anos, também encontrou na 42 a ponte para fazer a sua transição de carreira. Ingressou no mercado de trabalho aos 17 anos na área de atendimento e já nutria interesse pela área de TI.
“Antigamente, o profissional de tecnologia tinha um perfil diferente. Era uma área rígida, não tinha a necessidade de uma relação interpessoal como hoje em dia”, conta Raul
Formou-se em Biologia e atuou na área de Ecologia em sua iniciação científica. Ao ser convidado para ingressar na pós-graduação para dar continuidade ao projeto, perdeu a bolsa de estudos.
“Eu me vi em uma situação muito ruim e, mesmo amando Biologia, vi que esse caminho já não trazia mais frutos. E fui buscar outras opções para mim”, relembra. Ao entrar em contato com um primo que trabalhava com tecnologia, percebeu que o mercado havia mudado completamente. Encantado pela possibilidade de agregar diversidade à área de tecnologia, Raul se inscreveu na 42 São Paulo.
O biólogo virou um dos bolsistas do programa (no site da 42 SP há mais informações sobre as bolsas). “Já trabalhei e estudei quando fiz a minha graduação e é muito complicado. Tem muita coisa que passa despercebido porque você fica muito cansado. A 42 me proporcionou estudar sendo custeado por isso. Nem os meus pais um dia puderam me dar esta oportunidade”, conta. Raul começou a trabalhar, no final de 2020, como analista de desenvolvimento de sistemas.
Soma de conhecimentos
Existem aqueles que mudam de profissão dentro de um mesmo campo de conhecimento, assim podem aproveitar seus contatos, sua bagagem, formação e experiência. No caso de Raul e Bruno foi o oposto. Um biólogo e um chef de cozinha se aventuraram a aprender programação e procurar uma colocação em Tecnologia da Informação (TI).
“Eu vejo gente que era cientista de dados e vai para a programação. Faz mais sentido, né?”, diz Bruno Vidigal. No entanto, ele não descarta a sua formação em Gastronomia e sonha em unir suas duas áreas de conhecimento: cozinha e programação.
“A gente perde uma média de 30% da alimentação agrícola em transporte. Eu penso muito em lidar com este problema com a programação”, planeja. Para ele, um dos pontos positivos desse processo é que, ao realizar a transição de carreira, ele acumulou mais conhecimento sobre si mesmo, comparado ao início da sua vida profissional.
“Hoje eu tenho a paz de saber que se eu quiser mudar, eu sei que eu posso. Eu olho para minha filha e penso como vai ser o futuro dela. Vejo a tecnologia como uma grande aliada para um mundo melhor”, afirma Bruno Vidigal.
Raul Kelmani também conta que está feliz com o caminho que está percorrendo, apesar de não ter certeza de onde irá atuar. “Na 42, eles ensinam a gente a aprender coisas novas sempre, não apenas programação. Só aprender. E esta é uma habilidade sensacional!”.
Tecnologias digitais e o futuro do trabalho
O estudo Projetando 2030: uma visão dividida do futuro encomendado pela Dell Technologies ao Institute For The Future, analisou os impactos das tecnologias que irão redesenhar as profissões até 2030. A pesquisa estima que 85% dos trabalhos que existirão em 2030 serão novos. Além disso, entre as aptidões esperadas de quem integrará o mercado de trabalho nas próximas décadas, está o conhecimento de tecnologias digitais.
O Fórum Econômico Mundial (FEM) mapeou em seu relatório anual The Future of Jobs de 2020 os empregos e as habilidades do futuro. De forma geral, concluiu que a pandemia causada pelo COVID-19 acelerou ainda mais mudanças no mercado de trabalho. Os dados revelam que 50% dos funcionários precisarão de requalificação nos próximos anos, e 94% dos líderes entrevistados esperam que os funcionários adquiram competências do futuro. A previsão é de que a automação elimine 85 milhões de empregos no mundo, mas, à medida que a economia e os mercados evoluem, 97 milhões de novas oportunidades irão emergir.
Entre as competências transversais em várias ocupações, o relatório aponta para marketing digital, gerente de produtos e gerenciamento do desenvolvimento de softwares. No contexto brasileiro, estão entre os dez profissionais mais demandados: especialista em machine learning e inteligência artificial, analista de dados e especialista em internet das coisas.