Conheça mais sobre a história de Andreia Alvarez, a voluntária que usa o poder da caracterização para contagiar pacientes em condições extremas.
A estilista Andreia Alvarez Schnorr é uma entusiasta de personagens e caracterizações. Aos quarenta anos, recém-separada e livre de um casamento abusivo, Andreia voltou da Espanha – onde morou com o marido e o filho durante onze anos – em busca de um novo caminho, no Brasil, especificamente em São Paulo. Hoje, aos 44 anos, ela reencontrou sua força interior com a ajuda das personagens que criou para trabalhar como voluntária em hospitais.
A primeira caracterização de sua história foi a de Angel Alva, personagem que levou Andreia a ganhar um concurso de Pin Up Internacional, quatro meses após retornar ao país de origem. Depois viveu a Mamãe Noel, para entregar presentes a crianças da NAB(Núcleo Assistencial Brasilândia). E a mais recente, como Mulher Maravilha, personagem que a acompanha até hoje.
O que começou apenas como uma representação, virou uma vocação. Depois de ir caracterizada na Comic Con (CCXP), descobriu o coletivo Super-Heróis da Alegria, que trabalha com humanização de hospitais em São Paulo, e passou a integrá-lo, realizando ações com o intuito de reviver as fantasias e sonhos de pacientes nas mais variadas condições.
Conheça mais sobre a história dessa voluntária inspiradora na entrevista abaixo:
Como sua trajetória pessoal abriu caminho para encontrar a inspiração no seu trabalho?
O final do meu casamento foi um pouco traumático, eu ouvia comentários abusivos todos os dias e esse tipo de coisa sabota nossa autoestima. Um dia eu resolvi me vestir de pin up e fazer uma sessão de fotos. Tomei a decisão de mandar uma dessas fotos para a Revista Pin Up America e fui selecionada para sair na publicação. Foi a partir desse dia que resolvi usar a caracterização para me empoderar. Após esse processo, eu quis passar a mensagem de que não é preciso esperar ninguém para dar o poder que está em você mesmo.
Depois dessa primeira experiência com a caracterização, como você uniu isso ao voluntariado?
Eu sempre colaborei com sacolinhas de Natal para as crianças, mas depois de um tempo, tive vontade de entregá-las pessoalmente. Conversei com uma amiga que também era voluntária e ela disse que estavam precisando de uma Mamãe Noel para fazer as entregas no Núcleo Assistencial Brasilândia, então me ofereci para representá-la. As crianças atendidas pelo NAB são portadoras de diversos tipos de síndromes (de Down, hidrocefalia, paralisia) e essa minha primeira experiência com o voluntariado foi muito marcante.
De onde surgiu a inspiração para a caracterização como Mulher Maravilha?
Em 2017, meu filho de 12 anos me pediu para levá-lo na Comic Con. Quando soube que era uma feira de cosplays e cultura pop encontrei a oportunidade de me fantasiar de Mulher Maravilha, um sonho de infância.
Quando surgiu a oportunidade de ir à CCXP com meu filho, decidi que seria meu momento de encarnar a personagem! Pedi para um amigo meu, que já me ajudava com os figurinos, fazer uma roupa de Mulher Maravilha das antigas, sabe? Foi fantástico!
E como a personagem Mulher Maravilha chegou até o trabalho voluntário nos hospitais?
Meu filho tem diabetes desde os nove meses e passei muito tempo em hospitais com ele. Eu me lembro de pensar que ter uma criança internada é muito triste e que eu ficaria muito contente se alguém viesse alegrar meu filho.
Na Comic Con conheci uma pessoa vestida de Superman, que fazia trabalho voluntário em hospitais, e isso me despertou a vontade. Desde então, tentei me incluir nesses trabalhos e montar uma rede de contatos.
Em sua opinião, qual é o diferencial de usar a caracterização como forma de alcançar as pessoas em um trabalho voluntário?
Quando eu estou de Mulher Maravilha, vou lá para salvar o mundo. Não é a Andreia que está indo visitar. Por isso eu estudo, assisto a filmes e conheço tudo sobre a história do personagem para me comportar como ele. É uma responsabilidade grande, somos heróis.
E o impacto vem antes mesmo de você dizer qualquer coisa! Você muda a condição da pessoa que está no hospital. Só de olhar, as reações das pessoas mudam. Elas sorriem, ficam impressionadas. Principalmente as crianças.
Houve alguma experiência durante as visitas que te marcou especialmente?
Cada visita é uma experiência diferente. Ficamos emocionados com pessoas que estão em condições muito difíceis, mas que mantêm o sorriso e a vontade de viver. O nosso papel é apenas encorajar. Mas a primeira vez que estive no hospital foi bem marcante, eu não sabia bem como me portar. A paciente que visitei neste dia era uma mulher transexual, ela estava deitada e pediram que a gente fosse devagar, para não assustá-la. À medida que nos aproximávamos, ela não tirava os olhos de mim e eu não sabia o que fazer!
De repente, ela disse: “A minha personagem favorita, desde criança, é a Mulher Maravilha. Alguém pede para ela me abençoar!”. Quando recebi aprovação, me aproximei e disse algumas palavras, pedindo para que ela melhorasse logo. É realmente uma coisa mágica e gente recebe muito mais que doa.
Você tem planos para o futuro como Mulher Maravilha?
Já fiz uma palestra sobre empoderamento feminino para 100 pessoas no Hospital São Bento. Desde então, estou começando um projeto junto com meu amigo voluntário, que faz o Superman, para realizarmos mais ações como essa. Além disso, pretendo dar palestras sobre bullying em escolas, é uma coisa muito importante para mim. Essa mágica de poder ajudar as outras pessoas é uma coisa viciante!