Voluntários do Vacaciones Solidárias desenvolvem atividades sobre pensamento computacional com pessoas com deficiência intelectual.
Aprender programação e desenvolver o pensamento computacional são duas capacidades que podem ser adquiridas por qualquer pessoa, inclusive por quem tem deficiência intelectual. Foi o que provou a 8ª edição do Vacaciones Solidárias, programa de voluntariado internacional da Fundação Telefônica Vivo.
Durante o mês de novembro, 13 colaboradores do Grupo Telefônica,vindos de Argentina, Brasil, Equador, Espanha, Peru e Reino Unido, doaram 15 dias de suas férias para aprender e ensinar programação e atividades de pensamento computacional para 187 alunos do Centro Social Nossa Senhora da Penha (CENHA).
Localizada na zona leste de São Paulo, a organização atende pessoas com deficiência intelectual e em situação de vulnerabilidade, com faixa-etária de 7 a 60 anos. O desafio de trazer pensamento computacional como metodologia de aprendizagem foi grande, mas os resultados superaram as expectativas.
“Em apenas duas semanas, nós tivemos grandes resultados de alunos que não interagiam e passaram a se interessar pelas oficinas realizadas pelos voluntários. Todos se envolveram de alguma forma. Esse é o grande legado que deixamos aqui.Além do amor dos voluntários”, relata Karina Daidone, gerente de projetos sociais da Fundação Telefônica Vivo.
Usar a estrutura de um programa de voluntariado em prol da aprendizagem de pessoas com deficiência é uma maneira de construir uma sociedade mais inclusiva, como defende Alexandre Amorim, diretor executivo da ASID Brasil (Ação Social para Igualdade das Diferenças), um dos parceiros executores do Vacaciones Solidárias.
“Nós defendemos que uma sociedade mais inclusiva é feita a partir da união das pessoas. O Vacaciones mostrou que colocar voluntários brasileiros e de outros países, de áreas e com conhecimentos diferentes, para se envolverem com pessoas com deficiência, professores e instituições traz resultados muito significativos”, diz.
Programação sem limitações
A partir de metodologias desenvolvidas pelo Programaê, uma iniciativa da Fundação Telefônica Vivoe da Fundação Lemann que aproxima jovens e educadores da programação, os voluntários desenvolveram circuitos de atividades com prototipação e programação plugada e desplugada. As oficinas foram desenvolvidas com base no grau de deficiência intelectual do público atendido, divididas nos níveis leve, médio e grave.
Adaptar o conteúdo das oficinas exigiu um trabalho prévio, em construção coletiva, com os educadores do CENHA, que ajudaram a mostrar, com linguagem mais lúdica e visual, que programação pode fazer parte do dia a dia de todos.
“As competências do século XXI é o que as empresas estão demandando das pessoas. E o mundo da computação é ambicioso. Independentemente da idade e das capacidades físicas e intelectuais, o pensamento computacional é uma metodologia de aprendizagem que todos podem incorporar”, define o voluntário espanhol Manuel José Ruiz Garcia.
Novas competências
Durante a oficina Eu Avatar, os beneficiários foram estimulados a criar avatares e robôs a partir de pintura e materiais reciclados. Os robôs confeccionados pelos alunos foram usados como máscaras na festa de encerramento do projeto, batizada de Carnarobô.
Já na oficina Corrida da Reciclagem, os beneficiários abusaram da criatividade para criar carrinhos a partir de materiais reciclados.
Segundo a educadora Sara Carvalho, monitora de capacitação no CENHA, atividades como essas são importantes para trabalhar a imaginação e desenvolver a parte motora de alunos com deficiência. “Cortar e colar envolve coordenação motora fina. Pode parecer pouco, mas para eles significa um passo em direção a uma maior autonomia e a uma vida mais completa”.
Nas oficinas voltadas para programação e pensamento computacional, os alunos tiveram a chance de expandir sua visão de mundo e se aproximar da tecnologia. “A programação vai estimular planejamento, raciocínio lógico e resolução de problemas. Vai fazer com que o aluno saia de sua zona de conforto e atinja outras regiões cognitivas”, explica Sara.
Combinando a linguagem de programação Scratch e o robô Jabuti, os alunos aprenderam programação na prática ao usarem o computador para fazer com que o robô se movimentasse e falasse. Com a atividade, conseguiram se divertir e superar os próprios desafios.
Com o apoio dos voluntários, os beneficiários puderam vivenciar ainda a realidade virtual com o aplicativo Google VR Cardboard e participaram de um quiz que auxiliava no aprendizado sobre Segurança na Internet.
Todo mundo ganhou
A intensa convivência entre voluntários e beneficiários foi muito positivae possibilitou a superação até mesmo da barreira da língua. “A socialização de grande parte dos alunos se dá muito em casa. A troca com voluntários de outros países fez com que eles entendessem que podem compreender e ser compreendidos por qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo”, definiu a educadora Sara.
O trabalho realizado pelos participantes do programa trouxe impactos positivos no dia a dia dos alunos. A aluna Melissa, por exemplo, que normalmente tem dificuldades de fazer as atividades de rotina, participou sorrindo das oficinas, graças ao cuidado dos voluntários. Já o aluno Antônio aprendeu a escrever o próprio nome com a ajuda de um voluntário, que usou a criatividadepara criar uma escrita com palitos.
Para a voluntária peruana RubíManero Perez, a parte mais bonita do trabalho com os alunos do CENHAfoi ver que, mesmo que levem um tempo maior para aprender algo, quando isso acontece logo compartilham o ensinamento com os colegas.
“Eles nos dão muito amor, não sabem o que é a maldade. Outra coisa que me emocionou é que eles nos ensinam a olhar para o mundo com o olhar de uma criança, sem preconceitos, sem julgamentos, com vontade de ajudar o outro. São coisas que nós vamos esquecendo quando viramos adultos”, diz Rubí Manero Perez.
Para a coordenadora pedagógica Jeilda Pereira, o programa de voluntariado internacional foi um marco no CENHA: “A programação é um grande tabu para pessoas com deficiência e eles deram conta de se familiarizar com uma linguagem nova e chegar a um produto final. Eles perceberam que podem muito e isso abre um leque incrível de oportunidades. Estamos sempre lutando para mostrar que eles podem e a Fundação Telefônica Vivo nos ajudou muito nisso”, conta.
A diretora técnica do CENHA, Rosa Martins, destacou que o trabalho voluntário ajuda a instituição a aprimorar o seu serviço. “Um olhar de fora nos ajuda a aprender muito, assim como os daqui de dentro ensinam aos voluntários. É uma troca que mostra que, sim, as diferenças existem, mas é na união dessas diferenças que nós crescemos”, concluiu.