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Saiba como foi o evento que celebrou os dez anos do QEdu e debateu a importância de tomar decisões com base em dados educacionais!

#Educação#Educadores

Imagem mostra o palco do evento, onde estão sentados em cadeiras, lado a lado, três palestrantes mulheres e dois homens. Há três mesas de centro no palco e ao fundo um painel com a frase 10 anos do portal QEdu

As sociedades digitais se constroem por meio de dados. Então, é cada vez mais difícil ignorar o impacto deles nos processos de tomada de decisão. Na educação não é diferente. Nesse contexto, nasceu o maior portal de dados educacionais do Brasil: o QEdu Educação.

Para celebrar os dez anos do portal, gestores públicos, especialistas em educação e profissionais do terceiro setor se reuniram no prédio do Insper, em São Paulo, no dia 30 de novembro. Acima de tudo, a ideia do encontro foi debater as prioridades para a educação brasileira com base em evidências científicas e dados.

O evento foi promovido pelo Iede (Centro de Pesquisas em Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), que desde 2020 passou a gerir as plataformas do QEdu. Além disso, contou com apoio de parceiros institucionais como a Fundação Telefônica Vivo, Futura, Undime São Paulo, UNICEF, entre outros.

“Ao mesmo tempo em que o QEdu traz um olhar acessível sobre  as desigualdades nos dados educacionais, acreditamos que apenas divulgar estes indicadores não basta. Temos que trabalhar para integrá-los no cotidiano dos profissionais da educação. Assim, eles servirão como um norte para transformar a educação no Brasil”, afirmou Ernesto Farias, diretor e fundador do Iede.

Nesse sentido, o encontro se dividiu em quatro grandes temas prioritários, apontados pelos dados do QEdu e pesquisas do Iede. São eles: baixos índices de aprendizagem em Matemática, alta desigualdade social, risco à permanência na escola e profissionalização da gestão pública.

O que os dados educacionais dizem sobre a Matemática? 

Ao longo do evento, um dos temas mais abordados foi a regressão nos níveis de aprendizagem de Matemática. Apenas um em cada 20 jovens terminam a educação básica sem ter o conhecimento esperado nesta área do conhecimento. Isso segundo dados do Saeb 2021 (Sistema de Avaliação da Educação Básica).

Ou seja, apenas 5% dos estudantes dos anos finais do Ensino Médio conseguem resolver problemas básicos de Matemática. Quando comparado aos 64 países avaliados pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Brasil é o segundo colocado no ranking de proficiência em Matemática entre jovens de 15 anos.

Esse cenário se agrava ainda mais quando analisado sob uma perspectiva racial e socioeconômica.

“Além de determinar quais são as etapas de ensino prioritárias para os próximos anos, é importante avaliar quais competências básicas não estão sendo aprendidas. A Matemática, por exemplo, precisa ser uma prioridade para a educação pública brasileira. Antes de mais nada, sob um viés de equidade”, alertou Ernesto Farias, do Iede.

Caminhos possíveis: metodologias ativas e formação de professores 

“Embora o ideal seja estimular uma mentalidade matemática desde a primeira infância, a neurociência já comprovou que todas as pessoas podem desenvolver habilidades nesta área em qualquer faixa etária”, incentivou a professora Ya Jen Chang, presidente do Instituto Sidarta.

Há mais de sete anos, a organização atua para disseminar práticas inovadoras por meio do programa Mentalidades Matemáticas. Inspirado no trabalho de pesquisadoras da Universidade de Stanford (EUA), o projeto conecta neurociência e psicologia e para adaptar propostas pedagógicas que abordem o papel social e colaborativo da Matemática.

“À medida que os estudantes se deparam com uma Matemática contextualizada e divertida, perdem o medo de errar. Assim, ficam livres para aprender. Afinal, todos os seres humanos evoluíram com a capacidade de reconhecer padrões”, reforça Ya Jen Cheng.

Para isso, no entanto, é preciso começar pela formação de professores. É o que defende Cristiane Chica, diretora de educação do Grupo Mathema. Ela também participou da mesa que discutiu os dados educacionais sobre a aprendizagem de Matemática.

“Assim como os professores não podem deixar nenhum aluno para trás, nós também não podemos deixar nenhum professor sem acesso a uma formação consistente. Os mais de 2 milhões de educadores da rede pública brasileira são a variável mais importante para garantir uma aprendizagem de qualidade em Matemática”, alertou Cristiane.

Segundo a educadora, a formação docente deve integrar currículo, avaliação, habilidades técnicas e socioemocionais. Assim, os resultados podem ser interpretados para criar intervenções pedagógicas que corrijam o percurso de aprendizagem dos estudantes sem deixar de reconhecer suas estratégias pessoais.

“Ou seja, quanto mais ativa for a proposta pedagógica, mais resultados ela vai gerar. Visto que os estudantes ganham a chance de representar diferentes formas de pensar, agregando significado e desenvolvendo habilidades mais importantes do que o resultado da operação em si”, explicou.

 

Decisões baseadas em dados educacionais 

Outra ação importante para garantir bons resultados de aprendizagem em Matemática é usar dados educacionais para basear políticas públicas. De acordo com o pesquisador Jorge Lira, da Universidade Federal do Ceará (UFC), isso passa pela avaliação das competências dos educadores.

“Se olharmos para redes com bons indicadores de aprendizagem, como Sobral, entendemos que a expectativa de aprendizagem é colocada como um critério mais relevante do que os conceitos. Ao passo que avaliar as competências pedagógicas do educador é um norte tanto para os estudantes quanto para os gestores”, definiu Lira, que atualmente coordena o Centro de Excelência em Políticas Educacionais da UFC.

Pensando em contribuir com esse cenário, a Fundação Telefônica Vivo se juntou à rede municipal de ensino de Petrolina (PE) para iniciar o projeto Matemáticas ProFuturo, em parceria com o Grupo Mathema e também com o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP).

“Ao analisar os indicadores de todas as escolas da rede municipal de Petrolina, concluímos que 82% dos desafios giram em torno da aprendizagem de Língua Portuguesa e Matemática. Por isso, nossa ideia é ajudar a construir um modelo pedagógico estruturado em evidências e ações sistêmicas, que sejam escaláveis para outros territórios no Brasil”, compartilhou Karina Daidone, Gerente de Projetos Educacionais da Fundação Telefônica Vivo.

Diante deste contexto, o Matemáticas ProFuturo se destaca por articular poder público, iniciativa privada, centro de pesquisa e terceiro setor em prol do desenvolvimento de competências digitais e matemáticas em educadores e estudantes.

“Como resultado, pretendemos oferecer suporte para que a Secretaria tenha autonomia e passe a integrar os dados educacionais nos processos de tomada de decisão”, finalizou Karina.

 

Para além da Matemática: outras prioridades para a educação brasileira 

Além de destacar a Matemática como prioridade, o evento debateu outros temas importantes. Entre eles: combate à evasão escolar, alfabetização pós-pandemia, políticas públicas voltadas para a redução de desigualdades sociais, redefinição das avaliações nacionais e valorização da profissão docente.

Ainda que para avançar em cada uma dessas metas seja preciso um conjunto de ações articuladas, todos os especialistas reforçaram a importância de colher, interpretar e trabalhar a partir de dados educacionais.

“Se o direito à educação não se concretiza, ele não passa de um sonho. E para que ele se concretize precisamos criar mecanismos para monitorá-lo permanentemente. Essa é a importância de iniciativas como o QEdu, que foram pioneiras nesse sentido”, afirmou José Francisco Soares, ex-presidente do Inep e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Não à toa, uma das ações estruturantes defendidas como prioridade pela organização Todos pela Educação é a construção de um Sistema Nacional de Educação (SNE), que trabalhe em regime de colaboração entre estados, municípios e federação. Inclusive no que diz respeito ao cruzamento de dados.

“A partir dos dados educacionais é possível agendar o debate de políticas públicas e incidir sobre os desafios que precisamos enfrentar de forma sistêmica. Nesse ínterim, o QEdu é um grande farol. Sobretudo porque torna esse debate acessível para toda a sociedade civil”, pontuou Olavo Nogueira, diretor-executivo do Todos pela Educação.

10 anos de QEdu: dados educacionais apontam Matemática como prioridade
10 anos de QEdu: dados educacionais apontam Matemática como prioridade