Saiba como foi o evento que celebrou os dez anos do QEdu e debateu a importância de tomar decisões com base em dados educacionais!
As sociedades digitais se constroem por meio de dados. Então, é cada vez mais difícil ignorar o impacto deles nos processos de tomada de decisão. Na educação não é diferente. Nesse contexto, nasceu o maior portal de dados educacionais do Brasil: o QEdu Educação.
Para celebrar os dez anos do portal, gestores públicos, especialistas em educação e profissionais do terceiro setor se reuniram no prédio do Insper, em São Paulo, no dia 30 de novembro. Acima de tudo, a ideia do encontro foi debater as prioridades para a educação brasileira com base em evidências científicas e dados.
O evento foi promovido pelo Iede (Centro de Pesquisas em Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), que desde 2020 passou a gerir as plataformas do QEdu. Além disso, contou com apoio de parceiros institucionais como a Fundação Telefônica Vivo, Futura, Undime São Paulo, UNICEF, entre outros.
“Ao mesmo tempo em que o QEdu traz um olhar acessível sobre as desigualdades nos dados educacionais, acreditamos que apenas divulgar estes indicadores não basta. Temos que trabalhar para integrá-los no cotidiano dos profissionais da educação. Assim, eles servirão como um norte para transformar a educação no Brasil”, afirmou Ernesto Farias, diretor e fundador do Iede.
Nesse sentido, o encontro se dividiu em quatro grandes temas prioritários, apontados pelos dados do QEdu e pesquisas do Iede. São eles: baixos índices de aprendizagem em Matemática, alta desigualdade social, risco à permanência na escola e profissionalização da gestão pública.
Dados educacionais: conheça as plataformas do QEdu
Em 2012, a Meritt e a Fundação Lemann desenharam o QEdu Educação. A finalidade era democratizar o acesso a dados educacionais. Dessa forma, gestores públicos, professores e jornalistas passaram a ter condições de diagnosticar a qualidade do ensino nas redes em tempo real.
Sendo assim, a plataforma traz informações a nível nacional, estadual e municipal. Principalmente sobre a aprendizagem dos estudantes, taxa de distorção idade-série, reprovação e abandono escolar. Bem como estudos contextualizados que fornecem um panorama detalhado sobre educação básica brasileira.
Desde 2020, quando o Iede assumiu a gestão da plataforma, o QEdu também passou por uma reformulação. Além disso, incorporou outras duas plataformas: QEdu Países (comparação do Brasil com o mundo) e QEdu Gestão (permite que as Secretarias insiram dados).
O que os dados educacionais dizem sobre a Matemática?
Ao longo do evento, um dos temas mais abordados foi a regressão nos níveis de aprendizagem de Matemática. Apenas um em cada 20 jovens terminam a educação básica sem ter o conhecimento esperado nesta área do conhecimento. Isso segundo dados do Saeb 2021 (Sistema de Avaliação da Educação Básica).
Ou seja, apenas 5% dos estudantes dos anos finais do Ensino Médio conseguem resolver problemas básicos de Matemática. Quando comparado aos 64 países avaliados pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Brasil é o segundo colocado no ranking de proficiência em Matemática entre jovens de 15 anos.
Esse cenário se agrava ainda mais quando analisado sob uma perspectiva racial e socioeconômica.
“Além de determinar quais são as etapas de ensino prioritárias para os próximos anos, é importante avaliar quais competências básicas não estão sendo aprendidas. A Matemática, por exemplo, precisa ser uma prioridade para a educação pública brasileira. Antes de mais nada, sob um viés de equidade”, alertou Ernesto Farias, do Iede.
Caminhos possíveis: metodologias ativas e formação de professores
“Embora o ideal seja estimular uma mentalidade matemática desde a primeira infância, a neurociência já comprovou que todas as pessoas podem desenvolver habilidades nesta área em qualquer faixa etária”, incentivou a professora Ya Jen Chang, presidente do Instituto Sidarta.
Há mais de sete anos, a organização atua para disseminar práticas inovadoras por meio do programa Mentalidades Matemáticas. Inspirado no trabalho de pesquisadoras da Universidade de Stanford (EUA), o projeto conecta neurociência e psicologia e para adaptar propostas pedagógicas que abordem o papel social e colaborativo da Matemática.
“À medida que os estudantes se deparam com uma Matemática contextualizada e divertida, perdem o medo de errar. Assim, ficam livres para aprender. Afinal, todos os seres humanos evoluíram com a capacidade de reconhecer padrões”, reforça Ya Jen Cheng.
Para isso, no entanto, é preciso começar pela formação de professores. É o que defende Cristiane Chica, diretora de educação do Grupo Mathema. Ela também participou da mesa que discutiu os dados educacionais sobre a aprendizagem de Matemática.
“Assim como os professores não podem deixar nenhum aluno para trás, nós também não podemos deixar nenhum professor sem acesso a uma formação consistente. Os mais de 2 milhões de educadores da rede pública brasileira são a variável mais importante para garantir uma aprendizagem de qualidade em Matemática”, alertou Cristiane.
Segundo a educadora, a formação docente deve integrar currículo, avaliação, habilidades técnicas e socioemocionais. Assim, os resultados podem ser interpretados para criar intervenções pedagógicas que corrijam o percurso de aprendizagem dos estudantes sem deixar de reconhecer suas estratégias pessoais.
“Ou seja, quanto mais ativa for a proposta pedagógica, mais resultados ela vai gerar. Visto que os estudantes ganham a chance de representar diferentes formas de pensar, agregando significado e desenvolvendo habilidades mais importantes do que o resultado da operação em si”, explicou.
Decisões baseadas em dados educacionais
Outra ação importante para garantir bons resultados de aprendizagem em Matemática é usar dados educacionais para basear políticas públicas. De acordo com o pesquisador Jorge Lira, da Universidade Federal do Ceará (UFC), isso passa pela avaliação das competências dos educadores.
“Se olharmos para redes com bons indicadores de aprendizagem, como Sobral, entendemos que a expectativa de aprendizagem é colocada como um critério mais relevante do que os conceitos. Ao passo que avaliar as competências pedagógicas do educador é um norte tanto para os estudantes quanto para os gestores”, definiu Lira, que atualmente coordena o Centro de Excelência em Políticas Educacionais da UFC.
Pensando em contribuir com esse cenário, a Fundação Telefônica Vivo se juntou à rede municipal de ensino de Petrolina (PE) para iniciar o projeto Matemáticas ProFuturo, em parceria com o Grupo Mathema e também com o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP).
“Ao analisar os indicadores de todas as escolas da rede municipal de Petrolina, concluímos que 82% dos desafios giram em torno da aprendizagem de Língua Portuguesa e Matemática. Por isso, nossa ideia é ajudar a construir um modelo pedagógico estruturado em evidências e ações sistêmicas, que sejam escaláveis para outros territórios no Brasil”, compartilhou Karina Daidone, Gerente de Projetos Educacionais da Fundação Telefônica Vivo.
Diante deste contexto, o Matemáticas ProFuturo se destaca por articular poder público, iniciativa privada, centro de pesquisa e terceiro setor em prol do desenvolvimento de competências digitais e matemáticas em educadores e estudantes.
“Como resultado, pretendemos oferecer suporte para que a Secretaria tenha autonomia e passe a integrar os dados educacionais nos processos de tomada de decisão”, finalizou Karina.
Para além da Matemática: outras prioridades para a educação brasileira
Além de destacar a Matemática como prioridade, o evento debateu outros temas importantes. Entre eles: combate à evasão escolar, alfabetização pós-pandemia, políticas públicas voltadas para a redução de desigualdades sociais, redefinição das avaliações nacionais e valorização da profissão docente.
Ainda que para avançar em cada uma dessas metas seja preciso um conjunto de ações articuladas, todos os especialistas reforçaram a importância de colher, interpretar e trabalhar a partir de dados educacionais.
“Se o direito à educação não se concretiza, ele não passa de um sonho. E para que ele se concretize precisamos criar mecanismos para monitorá-lo permanentemente. Essa é a importância de iniciativas como o QEdu, que foram pioneiras nesse sentido”, afirmou José Francisco Soares, ex-presidente do Inep e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Não à toa, uma das ações estruturantes defendidas como prioridade pela organização Todos pela Educação é a construção de um Sistema Nacional de Educação (SNE), que trabalhe em regime de colaboração entre estados, municípios e federação. Inclusive no que diz respeito ao cruzamento de dados.
“A partir dos dados educacionais é possível agendar o debate de políticas públicas e incidir sobre os desafios que precisamos enfrentar de forma sistêmica. Nesse ínterim, o QEdu é um grande farol. Sobretudo porque torna esse debate acessível para toda a sociedade civil”, pontuou Olavo Nogueira, diretor-executivo do Todos pela Educação.
Educação antirracista: respondendo aos dados educacionais
“O Brasil é um país diverso, mas infelizmente não é equânime”, definiu Marisa Costa, consultora de políticas educacionais. Ela participou do debate sobre desigualdade racial na educação durante o evento de celebração dos 10 anos do QEdu.
Ao longo do painel, os participantes foram convidados a pensar em ações estruturantes para criar uma educação efetivamente antirracista. Uma das soluções apresentadas foi a formação continuada de professores e gestores escolares.
Pensando nisso, a plataforma Escolas Conectadas oferece gratuitamente o curso Escola para Todos: promovendo uma educação antirracista. A proposta dessa formação docente é justamente promover reflexões junto aos educadores que formarão os futuros cidadãos da sociedade brasileira.
A formação de professores é gratuita, tem carga horária de 50 horas, é certificada pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e conta com mediação das professoras Carolina e Fernanda Schneider. Saiba mais!