Considerado o maior evento de dados e tecnologia para impacto social do Brasil, o Festival Social Good Brasil 2020 chegou à 9ª edição de forma 100% on-line e gratuita!
Marcado pela incerteza e por diversas crises devido à pandemia do coronavírus, o ano de 2020 deixou pouco espaço para um respiro em meio aos desafios. Mas trouxe também uma oportunidade de pensar sobre as possibilidades e soluções transformadoras para os mais diversos setores da sociedade. Essa foi a reflexão que deu o tom à 9º edição do Festival Social Good Brasil (SGB), que aconteceu de 3 a 7 de novembro em um formato 100% on-line e gratuito.
Junto a um convite para um despertar consciente e coletivo, o evento debateu o papel dos seres humanos, das tecnologias e dos dados como tema central, além de trazer um olhar para os empreendedores sociais neste momento tão particular da História.
“Tudo o que já era importante tornou-se inadiável. E esses abismos não vão diminuir se não fizermos alguma coisa a respeito. Acreditamos que o ser humano, em toda a sua pluralidade, é agente fundamental para criar, experimentar e sonhar os futuros possíveis”. ressaltou a equipe do Social Good Brasil, na abertura do evento.
Adaptado a um formato remoto, o Festival trouxe palestras, workshops e atrações culturais ao longo dos cinco dias. Todos os conteúdos contaram com audiodescrição, tradução em libras e legendas para convidados internacionais, expandindo as possibilidades de acesso.
Para alcançar uma dimensão de impacto ainda maior, o Social Good Brasil também contou com o apoio de parceiros como a Fundação Telefônica Vivo, Engie, Ambev Voa, entre outros. A seguir, confira os principais destaques do evento:
O que rolou no SGB 2020?
- Educação e fluência em dados para indivíduos e organizações, em diversos setores e contextos
- Tendências em uso de dados e novas tecnologias para impacto socioambiental positivo (e cases!)
- Conversas sobre novo poder, comportamento humano inovador e competências do futuro
- Causas ou desafios que se acentuaram com a pandemia
- Protagonismo do ser humano em momentos de mudança
- Atrações culturais e inspiração para um futuro melhor
Despertar para os valores humanos
A evolução tecnológica já vem ganhando escala há 50 anos, mas nunca atingiu tamanha proporção e complexidade como hoje. Viver neste mundo VUCA, traz cada vez mais a necessidade de um despertar para competências que nos conectam à humanidade e à criatividade existente em nós, com ou sem ajuda das máquinas.
“Por mais que a gente se depare com manchetes sobre o potencial transformador da tecnologia, é preciso também exercitar nosso próprio sentir. Acredito que esse despertar passa pela diversidade que existe em cada ser. Cabe a nós termos coragem de acessar o potencial humano através das nossas vulnerabilidades”, diz Renan Hannouche, empreendedor social e um dos nomes listado pela Forbes Under 30, na categoria de tecnologia e inovação.
Ao longo do evento, os palestrantes chamaram atenção para essa perspectiva de construção de uma nova realidade. Romper padrões e abrir mão da ilusão do controle permitirá soluções mais criativas e flexíveis em um mundo volátil. Dessa forma, o papel de empresas, governos e comunidades também se transforma através desses valores.
“Este momento que estamos vivenciando tem despertado essa noção de que não é mais possível separar vida pessoal de profissional. Muitas empresas estão entendendo as habilidades socioemocionais e a escuta ativa como fatores essenciais para a produtividade”, afirma Tania Mujica, especialista em Comunicação Não Violenta.
Por serem habilidades ainda em desenvolvimento no ambiente profissional, os especialistas ressaltam a importância de não apenas possibilitar esses espaços de conexão, mas também saber lidar com os sentimentos compartilhados de forma acolhedora. Além disso, é no acolhimento destas múltiplas transformações que se renova a concepção de propósito.
“O nosso maior propósito é colaborar com retorno à humanidade. Fazer isso é quebrar essa ordem de separação entre nós. Para alcançar esse objetivo, existem diversas ações que podemos escolher para começar a mudança. Mas o propósito é um só: agir em nome da nossa unidade, do que temos em comum apesar das diferenças”, acredita Murilo Gun, fundador da Keep Learning School, startup que tem como missão redescobrir o potencial humano através de uma educação inovadora.
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O poder dos dados nos negócios
Não se pode falar mais em uma economia única no século XXI. A dinâmica entre oferta e demanda compete também pela atenção dos clientes e usuários, exigindo que as empresas reformulem a proposta de valor e o modelo de negócio para atender um mercado em contínua atualização.
Há também um elemento crucial para a sobrevivência de um negócio em uma sociedade hiperconectada: a coleta de dados. Essas informações funcionam como impressões digitais que podem medir o crescimento, o engajamento, o aproveitamento e até mesmo prever as chances de sucesso de uma empresa.
“A transformação digital é um processo, e para atingi-la é preciso traçar uma estratégia de negócio que inclui e incorpora uma estratégia de dados. A ideia é fortalecer um modelo preparado para um universo onde a demanda vem do cliente muito mais do que a oferta vem da empresa. É a experiência do cliente que governa a oferta de serviço no mercado, e isso é válido para qualquer tipo de negócio”, reforça Sílvio Meira, professor da Cesar School de Recife.
A pandemia de coronavírus impulsionou esse processo de forma exponencial. Uma pesquisa realizada pela empresa americana Twilio mostra que 43% dos executivos afirmaram terem acelerado seus mercados o equivalente a um período de 1 a 4 anos. Para 27% deles, esse número subiu para 5 a 9 anos. Justamente por isso, os especialistas sugerem que uma leitura crítica desses dados é necessária para garantir impacto social.
“O diferencial real é a interação humana e como seu negócio é capaz de modificar uma única história. A motivação não pode ser atingir grandes números e sim atingir as pessoas de uma forma subjetiva, pensando em decisões que de fato gerem impacto positivo. Não podemos subestimar o poder dos dados, mas há conquistas que não são mensuráveis”, pondera Charles Eisenstein, escritor e matemático norte-americano que estuda sobre economia de troca.
Do funk à inteligência artificial
O carioca Saulo Catharino gosta de descrever a si mesmo como um especialista em furar bolhas. Nascido e criado na periferia do Rio de Janeiro, descobriu na música um talento e também uma motivação. Mas nem só de música vive o produtor cultural. Recusado pelo mercado formal, decidiu apostar em cursos gratuitos sobre inteligência artificial. Hoje, é head da área na Beet, startup de consultoria de tecnologia e inovação cofundada por ele.
“A música e a tecnologia têm algo em comum: são produtos culturais elitistas. O jovem de quebrada sai em desvantagem, porque tem que se preocupar em pagar contas e botar comida na mesa ao invés de estudar oito horas por dia. A gente é privado de ter acesso ao querer. Por isso digo que a curiosidade e a criatividade são as forças motrizes do conhecimento”, acrescenta Saulo.
O especialista em inteligência artificial relembra, ainda, que teve de interromper os sonhos e, muitas vezes, encontrar outros caminhos para alcançar os objetivos. E reforça que o autoconhecimento e a consciência são os primeiros passos para romper padrões.
“O conhecimento de si próprio transcende aquilo que você vê no espelho. É sobre ter consciência das suas capacidades, sejam elas técnicas ou socioemocionais. O universo tende a ser desorganizado, mas é importante usar essa força entrópica para buscar voz nas decisões que você puder tomar. Se você não tiver conhecimento do que te impede de avançar, o caminho é muito mais difícil”, conclui.
Propósito coletivo, lideranças globais
Outra tendência para os negócios de impacto é a inteligência coletiva como força motriz de um propósito orientado por lideranças globais. Movimentos, startups e grandes empresas estão se unindo para combater as profundas desigualdades sociais e criar soluções criativas que alcançam o máximo de públicos possível.
“Os talentos estão em todo lugar, as oportunidades não. Mas se tem uma coisa que a pandemia coronavírus nos mostrou é que nós não precisamos estar fisicamente presentes para fazer mudanças significativas no mundo. Quando as pessoas se unem, elas trocam conhecimento, aprendem uma com as outras e disseminam ideias incríveis.”, acrescentou Rajesh Mirchandani, diretor de comunicação da Fundação das Nações Unidas.
A organização proporcionou a criação de uma comunidade chamada +Plus Social Good, criada em 2013, com o objetivo de refletir, debater e pensar em ações que garantam uma agenda de sustentabilidade seguindo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Integrantes e lideranças de todos os lugares do mundo participam da iniciativa, traçando metas locais com base em critérios globais.
Grandes empresas também estão mobilizadas nesse compromisso com a transformação. É o caso do Grupo Telefônica, que atua em 26 países por meio de ações de voluntariado digital. No Brasil, a Fundação Telefônica Vivo investiu cerca de 16,3 milhões de reais para iniciativas nas áreas de saúde e segurança alimentar; doou 200 respiradores em parceria com o Santander; e reforçou apoio à educação através de suas plataformas digitais.
“Acreditamos que essas ações possam ter minimizado de alguma forma a dor de um ano difícil para muitas das pessoas, e isso só foi possível graças aos nossos parceiros. De forma alguma temos a intenção de substituir o poder do Estado, mas sim agir em conjunto para fortalecê-lo”, compartilhou Americo Mattar, diretor-presidente da Fundação Telefônica Vivo.
Educação em Dados
Pensando na importância de saber lidar com dados, tanto para os negócios quanto para a vida no século XXI, o Social Good Brasil lançou a Plataforma de Educação em Dados SGB, que se dedica a democratizar e disponibilizar acesso à capacitação de indivíduos e organizações em Fluência em Dados.
Para ficar de olho!
Conheça também o Data4Good, um movimento que reúne setor social e comercial para responder aos principais desafios para a aplicação do sistema orientado a dados no terceiro setor, sem que a ausência de recursos e investimento seja um impeditivo. A comunidade se espalha ao redor do mundo e conta com grandes atores como Facebook, Fundação das Nações Unidas e Data Science for Social Good Foundation.