Confira os destaques do webinar gratuito da plataforma Escolas Conectadas, que debateu caminhos para uma educação antirracista!
“Ninguém nasce odiando uma pessoa pela cor da sua pele. De modo que, para odiar, as pessoas precisam aprender. E se podem ser ensinadas a odiar, também podem ser ensinadas a amar”. A frase de Nelson Mandela expressa a importância da educação antirracista e do ensino de seus conceitos para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Mas como os educadores podem promover essa consciência racial em sala de aula?
A fim de responder a essa pergunta, a plataforma Escolas Conectadas realizou o Webinar gratuito: Educação Antirracista. A aula foi transmitida ao vivo, no dia 24 de novembro, pelo canal da Fundação Telefônica Vivo no YouTube, e contou com mais de 600 participantes on-line.
O webinar foi apresentado por Karina Daidone, Gerente de Projetos da Fundação Telefônica Vivo, e conduzido pelas educadoras Carolina Chagas Schneider e Fernanda Chagas Schneider. Ambas são as autoras da publicação digital “Escola para Todos: Promovendo uma Educação Antirracista”, e tutoras do curso de mesmo nome sobre os conceitos correlatos, disponível na plataforma Escolas Conectadas.
“Apesar de existir diversas maneiras de trabalhar uma educação antirracista, há algo que deve ser essencial a todas as práticas: elas não podem ser pontuais. Ou seja, tem de estar integradas às demais áreas do conhecimento, em todos os dias do ano. Assim, os estudantes têm a chance de desenvolver um letramento racial efetivo”, apontou Carolina Schneider.
Ao longo da live, as educadoras apresentaram conceitos fundamentais relacionadas à educação antirracista e convidaram os participantes a interagirem no chat. Seja compartilhando percepções sobre a realidade de suas escolas ou fazendo perguntas sobre o tema. Confira a seguir os destaques do webinar.
Sobre o ProFuturo
O ProFuturo, programa global de educação da Fundação Telefônica e da Fundação “la Caixa”, incentiva a formação a distância e o compartilhamento de conhecimento entre educadores por meio da plataforma Escolas Conectadas. Dessa forma, educadores de todo o Brasil podem acessar cursos gratuitos relacionados à cultura digital e aprendizagens essenciais para o século XXI. Lembrando que, além de gratuitas e certificadas, as formações também estão alinhadas às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular. Saiba mais!
1. Mito da democracia racial
Primeiramente, as educadoras Carolina e Fernanda Schneider apresentaram um dos conceitos comuns na sociedade e que a educação antirracista luta desmistificar, a ideia de que existe uma democracia racial no Brasil. Tudo com argumentos.
“Em outras palavras, a crença de que pessoas brancas e pretas têm as mesmas oportunidades. Esse mito existe porque é conveniente para uma parcela da população. Afinal, quando as pessoas acreditam em uma falsa atmosfera de harmonia, elas se conformam em permanecer na mesma camada social a qual foram submetidas desde o período de escravidão”, explicou Carolina.
Nesse sentido, para haver uma democracia racial verdadeira seria necessário igualdade de direitos básicos. “Embora o Brasil tenha avançado muito do ponto de vista legislativo, ainda há desigualdades profundas no acesso da população negra a esses direitos”, acrescentou Fernanda Schneider.
Ao passo que essa desigualdade social entre brancos e negros é resultado de um racismo estrutural. Ou seja, um conjunto de crenças que moldaram as relações étnico-raciais no âmbito econômico, político e cultural.
2. Racismo estrutural
Por exemplo, em um país onde 56% da população se autodeclara negra, apenas 29,5% dos cargos de gerência são ocupados por pessoas pretas. Enquanto 70% das pessoas em cargos de liderança são brancas.
Para aprofundar ainda mais a discussão trazida pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as educadoras compartilharam uma história pessoal durante o webinar..
“Nós somos irmãs, embora eu seja lida como branca e Carolina seja uma mulher preta de pele clara. Isso acontece porque nosso pai é branco e nossa mãe é negra. Nossos avós paternos tiveram cinco netos, e todos acessaram o Ensino Superior. Já nossa família materna tem 50 netos. Apenas três fizeram faculdade. Precisamos nos perguntar: por que essa diferença em uma mesma família?”, refletiu Fernanda Chagas Schneider.
Em resposta, Carolina apontou o racismo estrutural, que perpetua uma relação de hierarquia entre brancos e negros. “Consequentemente, todos nós pensamos de maneira racista. Ainda que inconscientemente. Por isso, ser antirracista é estar consciente desse conjunto de crenças e remar contra a correnteza o tempo todo”, concluiu.
Acesse o caderno Equidade Étnico-Racial na Educação
A publicação Equidade étnico-racial: recomendações de políticas de equidade étnico-racial para os governos federal e estaduais tem como objetivo colaborar com o avanço educacional em pautas raciais, através de propostas de políticas públicas para as próximas gestões estaduais e federal. O material conta com a coordenação técnica da Mahin Consultoria Antirracista e do Todos Pela Educação, e contribuição técnica da Fundação Telefônica Vivo, entre outras parceiras. Clique aqui e baixe o conteúdo gratuitamente.
3. Ambiência Racial: construindo referenciais positivos
Sendo assim, uma das maiores conquistas do movimento negro foi a aprovação das leis n° 10.639 e 11.645. Ambas estabeleceram um ponto de partida para a educação antirracista nas escolas brasileiras.
A primeira lei, sancionada em 2003, estabelece diretrizes e bases da educação nacional para incluir no currículo oficial a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Já a segunda, aprovada em 2008, surge como um complemento da lei n° 10.639, adicionando a obrigatoriedade de incluir a cultura indígena.
“Como resultado, reconhecemos legalmente que o racismo estrutural ainda afeta crianças e jovens dentro e fora da escola. De modo que as leis oferecem bases para construir uma educação afrocentrada e antirracista, oportunizando a todos os estudantes a possibilidade de prosperar”, acrescentou Carolina Schneider.
No entanto, a educadora reforça que não basta apenas trabalhar a história afro-brasileira e indígena em um período específico do ano, abordando somente temáticas como a da escravidão. É preciso diversificar o olhar, trazer referências que falam sobre a resistência dos povos negros e originários no Brasil e na África.
Nesse contexto, um dos conceitos que pode ajudar na implementação de uma educação antirracista é o de ambiência racial. Segundo as pesquisadoras Tanise Muller e Gládis Kaercher, “ambiência racial é a impregnação de um ambiente de referenciais positivos que remetam à história e cultura de determinadas etnias, de modo a construir identidades, saberes e valores”.
“Esses referenciais impactam todas as relações étnico-raciais, podendo ser decisivos até mesmo para a permanência dos estudantes na escola. Em um país onde não ser escolarizado aumenta a probabilidade de morrer de forma violenta, precisamos fazer com que as crianças estejam na escola para sobreviver”, complementou Fernanda.
Formação de professores: promova uma educação antirracista com a Escolas Conectadas!
Na plataforma Escolas Conectadas, educadores de todo o Brasil têm a chance de aprofundar os conhecimentos sobre esse tema a partir das formações gratuitas sobre Educação Antirracista. Ao todo, são dois módulos disponíveis. O primeiro deles, Introdução à Educação Antirracista, tem carga horária de 16 horas e pode ser realizado sem mediação. Já o Escola Para Todos – Educação Antirracista, conta com uma abordagem mais aprofundada de 50 horas e mediação.
As duas formações de professores são gratuitas e certificadas. Além disso, inovam ao trazer opções de intervenções pedagógicas transformadoras para a construção de uma nova ambiência racial na escola, com foco no combate à discriminação e no respeito às diferenças. Aproveite essa oportunidade e inscreva-se para as próximas turmas!
4. Educação antirracista: práticas que transformam
A partir da formação docente Escola para Todos: Promovendo uma Educação Antirracista, do Escolas Conectadas, a professora Regina Melo passou por uma jornada de autoconhecimento.
“Ao longo das 50 horas, expandi a visão sobre a minha infância, minha existência enquanto mulher negra e minha atuação como professora. Compreendi que fazer um resgate histórico da ancestralidade dos povos negros é fundamental para moldar as perspectivas de futuro das crianças e jovens”, compartilhou a educadora.
Desde que encerrou a carreira como atleta profissional, em 2016, encontrou na educação uma paixão tão recompensadora quanto o basquete. Nesse meio tempo, passou a trabalhar a Educação Física como forma de expressão e diálogo, construindo um ambiente seguro para as diferenças.
“Afinal, o movimento é uma forma de linguagem. Muitas vezes o que as crianças não conseguem expressar dentro da sala de aula, consigo fazer com que elas coloquem para fora na quadra”, conta a professora, que leciona na EMEF Maria Elisa Bueno, na cidade de Barueri (SP).
Inclusive, suas aulas são muitas vezes oportunas para intervenções. Por exemplo, ao apresentar modalidades de luta para os estudantes do Fundamental I, a professora incluiu a capoeira. Alguns deles disseram que não tinham permissão para praticar o esporte por conta da religião.
“Expliquei que a capoeira tinha sim uma relação com a espiritualidade de matriz africana, mas que também era considerada uma manifestação artística. Ou seja, independente da religião, é algo que faz parte da cultura brasileira”, relembra Regina.
Então, uma estudante branca pediu licença para fazer uma pesquisa mais aprofundada e apresentar a capoeira para a turma. “Foi muito gratificante ver ela tomar a iniciativa. Principalmente porque não acredito que o debate racial vai avançar de forma imposta. Todas as pessoas, pretas e brancas, têm que se responsabilizar por essa discussão”, concluiu Regina.
Dica de prática pedagógica antirracista
Para exemplificar mais uma prática pedagógica antirracista, a professora Carolina Schneider compartilhou uma atividade que ela realiza anualmente com seus estudantes na escola pública. A ideia é propor uma discussão sobre o lápis cor de pele.
Em primeiro lugar, a professora exibe o filme Dudu e o Lápis Cor de Pele. O curta conta a história de um estudante negro que não se identifica com o lápis rosa que se convencionou chamar de “cor de pele”. Afinal, essa cor não representa a sua pele.
Para aprofundar a discussão, a professora lê com a turma o livro “A Cor de Coraline”, de Alexandre Rampazo. Depois propõe um debate com os estudantes, para que eles reflitam sobre esse tema coletivamente.
Por fim, Carolina pede para que as crianças desenhem três pessoas que elas conhecem na escola com tons de pele diferentes. Dessa forma, elas também ampliam o olhar para a diversidade que existe no ambiente escolar.